O PROJETO CIVILIZATÓRIO DESENVOLVIDO na ESCOLA do MANEADOR e PREVENTIVO da BARBÁRIE e COMPENSADOR da VIOLÊNCIA.
No 5º texto, relativo à Escola Rural do Maneador, examina-se o seu funcionamento no contexto das políticas públicas desenvolvidas na sua região. A porta desta pequena casa de madeira, encarrapitada sobre uma coxilha vermelha, ao lado da Capelinha Branca e do Campo Santo, apontava para o Norte Geográfico, para uma resistência e uma espera de melhores dias, que lhe foram negados.
Foto de Círio Simon - c. 1960
Fig. 01 – A paisagem do Maneador Alto vista do Norte e de uma estradinha
rural proveniente da sede municipal de Sarandi -RS
No exercício do hábito da integridade intelectual é necessário admitir que, no presente, ela é uma ruína. Desta ruína não sobraram vestígios físicos, a não ser alguns documentos esparsos e uma memória que se apaga na medida em que desaparecem os seus agentes. Ela passou a fazer companhia à numerosas ruínas, visíveis e invisíveis, que pontilham o vasto território dos afluentes da margem esquerda do Rio Uruguai.
Na aproximação das ruínas da pequena Escola Rural do Maneador, não se contorna e desqualifica nenhuma dos projetos políticos e das ideologias que buscaram a realidade regional do Alto Uruguai. Trata-se de buscar as diversas consciências humanas e as ruínas dos PROJETOS CIVILIZATÓRIOS COMPENSADORES que deixaram neste espaço geográfico. Busca que não renuncia ao exercício do hábito da integridade intelectual. Esta busca, descoberta e a visita destas ruínas – como das Missões próximas - estimulam-se reciprocamente e apuram as diversas formas e os diversos níveis da consciência humana. As diferentes ideologias, partidos e planos de governos datados, sempre tentaram reproduzir os seus ideais por intermédio de uma instituição escolar especifica e coerente com o seu projeto. Quando estes governos datados desaparecem também definharam os suportes da escola que os seus planos imaginavam e davam suporte político e físico.
Foto de Círio Simon - c. 1998
Fig. 02 – VISTA ATUAL do MANEADOR ALTO a PATIR da Estrada para o
MIRIM. Ao fundo o lugar onde ficavam a Escola Rural, da Capela e do Campo
Santo. A área agrícola está tomada pela monocultura.
Percebe-se que a reprodução de uma instituição escolar não é mecânica e nem que ela possui forças para se perpetuar por si mesma. A escola e os seus agentes não podem ignorar que a sua vida institucional segue, no tempo e no espaço, padrões traçados preliminarmente, como aqueles dos projetos políticos que lhe dão suporte conceitual e material.
Na frente da porta da escola cada novo governo exibe e brande os seus próprios planos e que o recém chegado considera que não foram previstos e não realizados pelo governo anterior. Quando percebe vestígios da existência de projetos inconclusos, procedentes do governo anterior, os desqualifica a qualquer pretexto nega-lhes a continuidade e os transforma em ruínas definitivas. No solo regional do Alto Uruguai as veredas destes projetos, e contra-projetos, ainda marcam os seus rastros. Rastros abertos e presentes para a exploração conceitual e do seu registro, enquanto permitirem isto.
O presente texto possui o privilégio de ser escrito na periferia de projetos que exerceram hegemonias no solo regional do Alto Uruguai e se imaginavam onipotentes, eternos, oniscientes, e onipresentes. A distância no tempo e na periferia permitem, ao autor deste texto, exercer o hábito da integridade intelectual, sem maiores constrangimentos.
Fig. 03 – CLASSE SEMELHANTE aquela USADA na ESCOLA DE MANEADOR
ALTO e com o TINTEIRO de PORCELANA.
ALTO e com o TINTEIRO de PORCELANA.
As COMPETÊNCIAS e LIMITES da ESCOLA RURAL do
MANEADOR nas POLÍTICAS e na CULTURA do
ALTO URUGUAI
MANEADOR nas POLÍTICAS e na CULTURA do
ALTO URUGUAI
No vasto território físico do Alto Uruguai, no qual se desenrolam as cenas da Escola Rural do Maneador, as pegadas políticas e culturais do passado são ricas e variadas. A geografia humana permitiu que tribos, clãs, coronéis, formassem famílias monogâmicas ou haréns tolerados ao sabor dos instintos reprodutivos de machos dominantes. A intervenção castelhana, assumida e personalizada pelo jesuíta da Contra-Reforma, deixou ruínas ainda visíveis e constituem um patrimônio da humanidade. A escola inaciana era a continuação e se dava à sua sobra do templo ao modelo medieval europeu. Neste cenário o bandeirante mestiço luso-brasileiro atacou o índio aldeado e o jesuíta espanhol.
Quando o território do Alto Uruguai passou a pender para o lado luso-brasileiro, constata-se que as politicas publicas tornaram-se ricas e variadas. O governo encabeçado pelo Marquês de Pombal, implementou os postulados do projeto iluminista. Este incentivou a vindas dos açorianos depauperados nas suas pequenas ilhas. A escola iluminista era leiga com professor que recebia o cargo e o soldo. Os projetos da política do Reino e do Império induziram a ocupação - do território de Passo Fundo e Planalto - por meio dos paulistas e mineiros com mais posses e a tradição da cultura brasileira. Contudo, na sua passagem não se encontraram projetos ou ou vestígios de escola bandeirante. Estes foram precedidos por militares, que no final do serviço de fronteira recebiam e fixavam-se em fazendas. Neste projeto político as melhores e as mais providas da região, eram as escolas militares. Contudo dependiam da aprovação do trono.
A ESCOLA RURAL de MANEADOR surgiu no âmbito dos projetos da política da Republica Brasileira. Esta política permitiu, pela Lei nº 173, de 10.09.18931, que sociedades organizadas e legalizadas, pudessem instalar, manter o funcionamento das escolas confessionais, e prestassem contas a sociedade. A mesma política republicana presidiu a criação das NOVAS COLÔNIAS2 por meio de empresas constituídas para tal fim e em oposição às VELHAS COLONIAS comandadas pela política do trono e da Província.
1 - Lei n° 173, de 10 de setembro de 1893 Regula a organisação das associações que se fundarem para fins religiosos, Moraes, scientificos, artísticos, políticos ou de simples recreio, nos termos do art. 72, § 3º, da Constituição.
2 - Ver a documentação e os relatórios da SECRETARIA de OBRAS do ESTADO do ROP GRANDE do SUL. Uma de sua diretorias era de TERRRAS e IMIGRAÇÔES.
Foto GOOGLE EARTH
Fig. 04 – PRÉDIO da PREFEITURA MUNICIPAL de SARANDI-RS
Neste prédio foi conferido o título de CIDADÃO de SARANDI a JOSÉ SIMON.
O território de Sarandi se emancipou, após a REVOLUÇÃO de 1930 do município de Passo Fundo no âmbito desta politica republicana. Sarandi estendeu, até 1959, o seu território até Nonoai1 e Goyo-rê às margens do rio Uruguai. O foco da história da existência da Escola Rural do Maneador desenrolou-se neste cenário geográfico e político.
1 - Nonoai pertenceu a Passo Fundo, a Palmeira das Missões, a Sarandi e, finalmente, o município de Nonoai foi criado no ano de 1959, através da Lei nº 3695, de 30 de janeiro de 1959. A instalação do novo município deu-se em 31 de maio de 1959, ficando esta data como o dia do aniversário do município.
FOTO ALFREDO KAISER c. 1950
Fig. 05 – PRÉDIO do GINASIO de SARANDI-RS em CONSTRUÇÃO. Após a
conclusão deste prédio as reuniões dos professores de Sarandi passaram a
serem realizados neste local.
A massiva Marcha para o Oeste, Brasília, a Reforma Agrária e os acontecimentos de 1964 são alguns passos que marcaram o final da política que sustentou a Escola Rural do MANEADOR.
Neste meio tempo não há como descurar o legado deixado nesta região pelos toldos indígenas, casas de fazendeiros, pousos de tropeiros e de gaúchos andarilhos. Estes não só deixaram pegadas recentes, mas vivem profundamente na consciência de muitos habitantes da região. A Escola Rural do Maneador, se não vivia em contato direto e quotidiano com estes primitivos habitantes, tinha o dever moral de preparar os seus estudantes, como cidadãos competentes, para entrar em contato físico e de ler estas mentalidades e consciências vivas na sua macro região1. Se estas consciências e mentalidades não são a maioria e nem a regra, elas distinguem os predecessores e conferem uma identidade tipica da Região do Alto Uruguai, ao estilo dos primitivos gauleses marcarem traços distintivos dos franceses.
1 - A atividade de tropeiros, de mascates, de peões de estância e de balseiros do rio Uruguai - não era algo estranho e incomum para muitos que se fixaram em Sarandi .
Foto do arquivo da Família José Simon aos cuidados de Nilza Simon Thums – Não Me Toque – RS
Fig. 06 – PREUNIÃO do MAGISTÈRIO do MUNICÍPIO de SARANDI-RS
O RITUAL na ESCOLA do MANEADOR e da COMUNIDADE.
No inicio das suas atividades - como escola comunitária - o seu currículo era determinado pelo conselho escolar e sob a proposta de seu professor. Quando atingiu o status de Escola Municipal o programa de ensino era determinado e fiscalizado pelas autoridades do município. É possível constatar um retrato geral, desta escola, traçado com notável síntese pelos inspetores públicos na ata de nº 5, de 26 de novembro de 1948:
“Presentes 66 alunos respectivamente dos 1o, 2o e 3o anos do curso primário, foram examinados 24 alunos da classe mais adiantada e alguns dos 1o e 2o anos, de acordo com o programa de ensino Municipal primário. Terminados os trabalhos de exame, foram apreciados os gráus de aproveitamento, sendo os mesmos julgados “ótimos”. Constatado ficou que o Professor não poupa esforços para instruir seus pequenos discípulos, distinguindo-se além de tudo a disciplina, o asseio e a educação dos pequenos que dirige”.
Para atingir este ideal possível nas circunstâncias as mais adversas, havia a necessidade de um ritual escolar que incluía práticas coletivas para as quatro séries do primário (depois primeiro grau – atual curso fundamental). O canto coletivo dos hinos pátrios iniciava a sessão matinal1 com as vozes de todas as séries que se expandiam nas cercanias rurais da escola. O final da manhã era marcado pela recitação ritmada e coletiva da tabuada e pela reza do Ângelus. Reza acompanhada pelas badaladas do sino de bronze colocado no alto da torre da capelinha de madeira ao lado da escola. Badaladas que marcavam também o meio dia para a comunidade e interrupção das atividades rurais e receber os filhos para o almoço familiar.
1 - A cadência e o ritmo repetitivo destes hinos pátrios, para muitos estudantes, era o primeiro contato com a língua nacional. O texto de sua letra deste hino já constava na cartilha “Queres ler?”, adotada no 1º ano.
Fig. 07 – ESTUDANTE ESCREVENDO com TINTA em CADERNO
QUADRICULADO.
O currículo da 1o, 2o, 3o e 4o anos da Escola Rural compreendia as matérias de Aritmética, Linguagem, História Pátria, Geografia, Civismo e Elementos de Ciências Naturais. Alem disto havia atividades de trabalho manuais masculinos e femininos. Além de práticas de ordem unida, rudimentos esportivos e espetáculos escolares.
A busca de harmonia e ordem ficava a cargo da música e de canções coletivas á capela. É possível ver o resultado - que este exercício propiciava na Escola do Maneador, - em registro de documento, assinado pelo prefeito municipal, numa visita de rotina realizada no 25 de outubro de 1951
“Pelo sr. Prefeito, foi mandado consignar ainda, um elogio em particular, às canções apresentadas pelos alunos, numa harmonia e ordem excepcionais, sob a orientação do professor”.
Para o conhecimento e as suas potencialidades naturais havia um passeio exploratório das redondezas da Escola uma vez ao ano, num dia determinado. Podia ser a visita ao rio da Várzea, com direito a travessia coletiva de barca ou a colheita da jabuticabas na região do Beira Campo previamente avisada.
Próximo ao final do ano havia uma visita das autoridades municipais ou a Comissão Examinadora por elas designada. Estas designações são interessantes índices da composição e dos cargos que ocupavam os membros, como aquele que se apresentou, no dia 09 de outubro de 1959, para efetivar estas verificações:
“A Comissão Examinadora esteve composta pelos senhores Antônio Nelso Tasca Inspetor do Ensino Municipal; Severino Tolotti1,
estudante em Sarandi; Heldon F. Klein, Fiscal da Municipalidade; e Lelio Albuquerque, Telegrafista em Sarandi; para tomar parte nos trabalhos dos exames foi convidado o Professor José Simon, que aquiesceu com tôda solicitude”.
estudante em Sarandi; Heldon F. Klein, Fiscal da Municipalidade; e Lelio Albuquerque, Telegrafista em Sarandi; para tomar parte nos trabalhos dos exames foi convidado o Professor José Simon, que aquiesceu com tôda solicitude”.
1 - Severino Tolotti foi vereador Câmara Municipal de Sarandi nas legisturas de
1973/1976 - 1977/1982 – formaçã site desta Câmara.
Uma outra composição da Banca examinadora, completamente distinta do ano anterior, pode ser verificada na ata do doa 21 de outubro de 1960
“Os trabalhos iniciados, presididos por Antônio Nelso Tasca, Inspetor do Ensino Municipal, Sargento Napoleão de Paiva e Silva Netto, Comandante do Dist. da Brigada Militar de Sarandi; Eliseu Silva, Professor junto à Escola Normal Rural de Sarandi; Hélio Evaristo Antonini, industrialista e triticultor no Município; e Hildo Carlos de Jesus, Funcionário da Municipalidade”.
Eventualmente o próprio prefeito comparecia como é possível verificar na ata do dia 25 de outubro de 1951, quando o prefeito, o benemérito médico Mário Azambuja, compareceu pessoalmente para presidir esta verificação.
MATERIAL LOGÍSTICO do PRESENTE POST relativo à ESCOLA do MANEADOR .
FAC-SIMILE e TRANSCRIÇÃO DIGITADA do LIVRO de ATAS das VISITAS dos INSPETORES de ENSINO do MUNICÍPIO de SARANDI à ESCOLA RURAL SÃO JOSE do MANEADOR. Do original deste Livro de ATAS foram preenchidas 14 (quatorze) folhas frente e verso.
IMAGENS do MANEADOR do MANEADOR de DIVERSAS ÈPOCAS. Fotos do arquivo da Família José Simon aos cuidados de Nilza Simon Thums – Não Me Toque – RS
LEI nº 173 de 10.09.1893
arisp.files.wordpress.com/
.../lei-173-de-10-de-setembro-de-1893.pdf
MATERIAL NUMÈRICO DIGITAL RELATIVO à ESCOLA RURAL
FRANÇA – BRETANHA – TRÉGARVAN - MUSEU da ESCOLA RURAL
ALEMANHA Baviera– Escola técnica agrícola
Vídeo do livro do Dr F. E BILZ edições 1894-1897
ESTADO UNIDOS – Escola alternativa no campo
QUADROS DIDÁTICOS para a ESCOLA PRIMÁRIA FRANCESA
IMAGEM de ESTUDANTE PRIMÀRIO FRANCÊS ESCREVENDO COM CANETA DE PENA de AÇO
MUSEU OLIVIO OTTO - CARAZINHO - RS
MUNICÍPIO de NOVA BOA VISTA
CLUBES SOCIAIS e ESPORTTIVOS do RIO GRANDE do SUL e a COPA do MUNDO no BRASIL
MOVIMENTO dos SEM TERRA, posterior a ESCOLA do MANEADOR,na FAZENDA SARANDI
COMENTÀRIO de um VEREADOR de um MUNICÌO ONDE PREVALECE o LATIFÙNDIO no RS
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