Espaço numérico digital destinado à circulação de informações culturais e de idéias provenientes de pessoas e dos afins dos descendentes físicos ou do pensamento de Mathias Simon (*05.05.1788 –+16.04.1866) e que ele materializou, em 1829, na migração com a sua família para a América.

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terça-feira, 5 de abril de 2011

PROFESSOR RURAL JOSÉ SIMON e sua OBRA-3

Um PROFESSOR numa FRONTEIRA AGRÍCOLA.

Pintura em acrílico de autoria de Círio SIMON
Fig. 01 – IMAGEM PARCIAL da LINHA MANEADOR ALTO. Ao fundo, sobre a coxilha, a capela e a escola ambas construídas em madeira das primitivas florestas nativas da região. Ao fundo da capela o cemitério da comunidade. A direita, no vale, NOVA BOA VISTA e MANEADOR BAIXO.

O foco do 3º texto é um professor numa nova fronteira agrícola no Alto Uruguai. Ao longo de 30 anos José Simon foi professor numa comunidade de agricultores e sendo também um entre eles.
A comunidade MANEADOR - MIRIM havia aberto e se estabelecera, na década de 1920, em duas linhas agrícolas paralelas na fronteira agrícola formada pelos imigrantes europeus na 3ª fase1

da ocupação do Alto Uruguai. Por efeito desta ocupação e exploração econômica a área geográfica das NOVAS COLÔNIAS fragmentou-se em municípios autônomos, formando um mosaico. Mosaico que se multiplicou em administrações como aqueles visíveis no progresso experimentado pelas VELHAS COLÔNIAS2.


Na época da ocupação das NOVAS COLÔNIAS a área do MANEADOR - MIRIM pertencia à administração do município de Passo Fundo. Município que estendia o seu território até as margem esquerda do Rio Uruguai, sendo Sarandi o seu 6º distrito. Sarandi, quando da sua autonomia, em 1938, incluía o atual município de Nonoai. Maneador passou a integrar, a partir de 1992, Nova Boa Vista3

devido à sua etnia e sua cultura comum com a sede do novo município.
O professor José Simon ingressou neste cenário no início da década em 1930 e ali exerceu o magistério até o início da década de 1960. Mudou-se para estas COLÔNIAS NOVAS junto com os seus demais irmãos estabelecendo-se inicialmente na Linha MANEADOR MIRIM a um quilômetro da Escolinha de madeira.
1 Ver as 5 fases da ocupação do Alto Uruguai descritas neste blog em http://mathiassimon1829.blogspot.com/2011/03/em-dia-com-cultura-dos-simon-13.html
2 Veja o mapa de 2011 dos municípios do Rio Grande do Sul na figura 02 do post http://mathiassimon1829.blogspot.com/2011/04/professor-rural-jose-simon-e-sua-obra-2.html
3 - Site de Nova Boas Vista – RS http://novaboavistars.com.br/
Pintura em acrílico de autoria de Círio SIMON
Fig. 02 – IMAGEM RECONSTRUÍDA da PRIMEIRA CASA do PROFESSO JOSÉ no MIRIM-MANEADOR. Situada a um quilômetro da Escola Rural muitas vezes se deslocava para o seu trabalho no seu cavalo de nome Reserva.

José Simon, após completar a sua formação profissional e assumir oficialmente o seu cargo na escola rural particular, contraiu núpcias com Lucila Talheimer no dia em 05 de outubro de 1935. Ela era filha de Henrique Talheimer e de Sibila Klein Talheimer, a 1ª professora de Nova Boa Vista. Do lado paterno era neta de João Talheimer, o 1º professor de Ati-Açu a 1ª Sede de Sarandi e depois de Nova Boa Vista.
Foto do arquivo da Família José Simon aos cuidados de Nilza Simon Thums – Não Me Toque
Foto no cenário familiar da casa de Henrique Talheimer , em 02 de fevereiro de 1937, em Nova Boa Vista Fig. 03 – QUATRO GERAÇÕES de PROFESSORES.
[ da esquerda para a direita do observador] 1- Maria Bohn KLEIN [esposa de] 2- Felipe KLEIN – 3 Lucila Talheimer SIMON [ tendo no colo Círio Simon com 4 meses de idade e futuro professor] - 5 Sibila Klein TALHEIMER (1ª professora de Nova Boa Vista) - 6 José SIMON (professor de Maneador e esposo de Lucila) – 7 Henrique TALHEIMER [esposo de Sibila e filho de] – 8 João {Johannes} TALHEIMER (1º professor de Ati-Açu e depois de Nova Boa Vista)

O campo profissional diário de José Simon era o magistério numa pequena escola rural. Inicialmente constituída e mantida pela comunidade local e com e emancipação de Sarandi passou a categoria de escola publica municipal.
Pintura em acrílico de autoria de Círio SIMON
Fig. 04 – A CAPELA e a ESCOLA de MANEADOR ALTO

A profissão do magistério tomava as suas manhãs. A tarde, e nos dias não letivos, dedicava-se à agricultura numa área de meia colônia (12 hectares). Nesta agricultura, ainda não atingida pela monocultura, os seus cultivos eram variados e complementares entre si. Assim esta atividade incluía a criação de gado e de animais que forneciam que as necessidades básicas da sua família exigem.
Pintura em acrílico de autoria de Círio SIMON
Fig. 05 – A PRÁTICA da COIVARA INICIAVA um NOVO ROÇADO

Esta atividade iniciava pela abertura de novas roças e onde se aplicava a técnica indígena da coivara.
As noites eram de ensaio de coral e a preparação da notação musical manual e unitária. Não havia qualquer recurso de multiplicação, ao estilo de qualquer mimeógrafo. O coral que ele preparava se apresentava para toda a comunidade nos cultos dominicais ele presidia
Nas épocas festivas cabiam-lhe a organização das festas do orago da capela e do baile oficial da comunidade
A obra e a ação pública do professor municipal José Simon constituem um fractal de um TODO e uma ponte entre duas realidades. Ao mesmo tempo ele é um assalariado e com cargo público, do outro lado pelo seu trabalho de agricultor ele garante o seu sustento e da sua família. Este TODO, constituído por mundo interno e externo, personifica-se no cidadão-docente que age no interior de um projeto civilizatório e que é o objeto maior do presente estudo.

Pintura em acrílico de autoria de Círio SIMON
Fig. 06 – MERENDA da TARDE na ROÇA

A intensiva formação profissional recebida em Novo Hamburgo, ao longo de dois anos foram realizadas no contexto das consequências da Revolução de 1930. Esta havia criado, no dia 14 de novembro de 1930, o Ministério da Educação e da Saúde Pública (MESP), nomeando Francisco Campos como o seu ministro1.

 O líder das reformas da Educação apontou de forma decisiva para a educação institucional. Assim Do interior do aparelho estatal ele denunciou a mentira que ali encontrou consagrada:
O Brasil dos dois países, o legal e o de fato: o país da mentira e o país da realidade, queremos ter professores sem cuidar de formá-los, higienistas sem uma escola de higiene, operários qualificados e produtores capazes, sem formação técnica e educação profissional. Daí em quasi todos os ramos de atividade a improvisação de curiosos em competentes.” (CAMPOS, 1931, p.5 2 ).
Este amplo projeto nacional, enunciado por Francisco Campos, coincide com a firmação institucional para o magistério do Professor Simon e os seus primeiros anos do exercício no âmbito da comunidade do Maneador do Sarandi.


1 - A Revolução de 1930 triunfou no dia 24 de outubro. Já no dia 14.11.1930 era criado o MESP e no dia 18 de novembro de 1930 tomava posse Francisco Campos no recém criado Ministério de Educação e Saúde Pública (MESP) in Boletim do Ministro da Educação e Saúde Pública (MESP), Rio de Janeiro, ano 1, nºs 1 e 2, jan. jun 1931 p.5.
2 - Boletim do Ministério da Educação e Saúde Pública: ano I, nº 1-2, jan. jun 1931.
Foto do arquivo da Família José Simon aos cuidados de Nilza Simon Thums – Não Me Toque
Fig. 07 – José Simon e seu cavalo Reserva”.Numa época sem serviço de eletricidade e de telefone era o meio mais agil de locomoção social, assistencial e trocas comerciais. Na condição de professor era útil de deslocamento até a escola e até a sede do município de Sarandi. A escola distava a um km da casa do professor e a sede municipal estava a 6 km

A maior parte e o melhor da vida de José Simon foi dedicada à escola rural e à comunidade que a mantinha. Único professor uni-serial de quatro adiantamentos do “primário” da época. Nunca teve assistente. Estudantes que apenas conheciam o idioma alemão materno, ele precisava encontrar meios para introduzi-los na língua pátria. Sob severa vigilância ao longo do Estado Novo lhe era impedido de qualquer comunicação na língua materna dos seus alunos.

Para retroceder no tempo e perceber um panorama do cenário político e cultura no qual iniciou a ação do Professor José Simon é necessário ter presente alguns elementos. Na ocupação do Alto Uruguai pela nova fronteira agrícola a intervenção do Estado do Rio Grande do Sul foi decisiva1.

 Nesta intervenção pontual e de época, foram evitados os assentamentos agrícolas mono-étnicos que se praticaram com os primeiros imigrantes europeus não lusos estabelecidos no Rio Grande do Sul. Imigrantes alemães haviam sido concentrados homogeneamente a partir de São Leopoldo e os italianos a partir de Caxias do Sul. Os topógrafos2

demarcaram “linhas” de assentamentos de agricultores intercalando etnias e culturas, evitando esta homogeneidade étnica e cultural do conjunto das NOVAS COLÔNIAS. O comprimento cada “linha” era de uma dezena de quilômetros e de um quilômetro de largura. Uma destas “linhas” era ocupada por integrantes de uma única etnia. Ao lado corria outra “linha” paralela e lindeira, ocupada por etnia diferente dos seus vizinhos.
Assim formavam-se comunidades que continuavam com as suas tradicionais práticas sociais, religiosas e técnicas. Contudo as comunidades lindeiras eram de etnias distintas formada por descendentes de alemães, italianos, poloneses. Conservavam as suas tradições e ao mesmo tempo eram enriquecidas com as tradições vindas dos seus vizinhos próximos. A escola rural e o comércio eram feitos em língua nacional.
Estas comunidades possuem sentido, deste todo traçado aqui, como fractais´deste conjunto orgânico de uma civilização. O agente central deste processo de interação entre um fractal o seu todo, era conferido ao professor rural. Professor com os mesmos interesses e cultura de sua comunidade, de um lado, e, do outro, detentor de um cargo e da função de Estado do qual o município era a expressão mínima.
1 Ver GODOY, Cândido José de - Relatório da Secretaria de Estado dos Negócios das Obras Públicas - Rio Grande do Sul - Porto Alegre : Livraria do Globo 1911, 380 p. il.

2 - O trabalho de Torres Gonçalves, no Governo da Carlos Barbosa e sob a Secretaria de Obras comandada por Cândido José de Godoy, necessita ser examinado objetivamente antes de seguir o reducionismo e seu enquadramento na singela escapatória da panacéia da ideologia positivista.

Foto do arquivo da Família José Simon aos cuidados de Nilza Simon Thums – Não Me Toque
Fig. 08 – A TURMA de 57 ESTUDANTES UNI-SERIAL da ESCOLA do MANEADOR do PROFESSOR JOSÉ SIMON e os LIDERES COMUNITÁRIOS entre eles encontram-se LEOPOLDO NICOLAU FRITZEN [lado direito da foto].

Ao examinar a ação do Professor José Simon nestas múltiplas interações parece que atingiu a legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e eficiência desejada e expressa pelo caput do art. 37 da Constituição de 19881

Múltiplas são as interações ocorridas na época professor José Simon. Estas interações eram deliberadas, na comunidade, antes, durante e depois de sua execução. Ações nas quais se decidia todas as perdas e todos os ganhos - individuais e da comunidade - antes, durante e depois desta execução. Época e lugar onde os contratos coletivos estavam ancorados num profundo e sadio inconsciente coletivo. Inconsciente coletivo de uma cultura multissecular da qual emergiam argumentos autênticos pró e os contra - conhecidos de todos - e a partir dos quais as discussões eram abertas. Inconsciente coletivo que evitava, ao máximo, qualquer mediação externa que não tivesse algum sentido para a comunidade ou para o bem estar de um dos seus membros. Na cultura interior, desta da comunidade, valia também o ditado que a “mão esquerda não saiba o que a mão direita faz de bem”.
A comunidade do Maneador - bebendo ainda das fontes puras de um consciente coletivo - evitava a contaminação deste tipo de cultura ancestral de publicidade orgânica. Esta publicidade orgânica necessitava contornar nesta época, de um lado, a cultura da propaganda e do marketing do Estado Novo. Do outro lado havia a necessidade de contrariar a cultura recente e adulterada da origem dos seus antepassados. Cultura, que nesta época, estava entregue ao sabor das investidas de partidos totalitários e arbitrários. Ideologias e partidos que, assim, conseguiam, momentaneamente, escurecer o consciente coletivo de uma das nações mais esclarecidas, avançadas ao máximo possível e tecnicamente municiada até os dentes. O autor deste artigo assistiu, e foi testemunho de batalhas travadas com cadeiras, na sala de vistas de seus parentes contra alguns portadores de mentalidades fracas que haviam aderido a estes partidos fortes europeus. Graças a esta vigilância e reações e imediatas internas da comunidade, estes poucos jamais puderam organizar-se de uma forma sistemática e regular.

MATERIAL LOGÍSTICO do PRESENTE POST.


Boletim do Ministério da Educação e Saúde Pública: ano I, nº 1-2, jan. Jun 1931.
Constituição da República Federativa do Brasil - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm
FAC-SIMILE e TRANSCRIÇÃO DIGITADA do LIVRO de ATAS das VISITAS dos INSPETORES de ENSINO do MUNICÍPIO de SARANDI à ESCOLA RURAL SÃO JOSE do MANEADOR. Do original deste Livro de ATAS foram preenchidas 14 (quatorze) folhas frente e verso.
IMAGENS do MANEADOR do MANEADOR de DIVERSAS ÈPOCAS. Fotos do arquivo da Família José Simon aos cuidados de Nilza Simon Thums – Não Me Toque – RS

GODOY, Cândido José de - Relatório da Secretaria de Estado dos Negócios das Obras Públicas - Rio Grande do Sul - Porto Alegre : Livraria do Globo 1911, 380 p. il.

MATERIAL NUMÈRICO DIGITAL RELATIVO à ESCOLA RURAL

FRANÇA – BRETANHA – TRÉGARVAN - MUSEU da ESCOLA RURAL

ALEMANHA Baviera– Escola técnica agrígola

Vídeo do livro do Dr F. E BILZ edições 1894-1897


ESTADO UNIDOS – Escola alternativa no campo

QUADROS DIDÀTICOS para a ESCOLA PRIMÁRIA FRANCESA

IMAGEM de ESTUDANTE PRIMÀRIO FRANCÊS ESCREVENDO COM CANETA DE PENA de AÇO

MUSEU OLIVIO OTTO - CARAZINHO - RS

MUNICÍPIO de NOVA BOA VISTA
Site de Nova Boas Vista – RS http://novaboavistars.com.br/


MOVIMENTO dos SEM TERRA, posterior a ESCOLA do MANEADOR,na FAZENDA SARANDI

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