Espaço numérico digital destinado à circulação de informações culturais e de idéias provenientes de pessoas e dos afins dos descendentes físicos ou do pensamento de Mathias Simon (*05.05.1788 –+16.04.1866) e que ele materializou, em 1829, na migração com a sua família para a América.

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quarta-feira, 30 de março de 2011

PROFESSOR RURAL JOSÉ SIMON e sua OBRA- 01

INTRODUÇÃO ao ESTUDO da OBRA de JOSÉ SIMON

Este é o 1º texto de uma série de oito subsequentes. No seu conjunto possuem como foco o trabalho do “PROFESSOR RURAL JOSÉ SIMON e a sua OBRA”. Estuda-se mais um profissional, da saga dos SIMON, dedicados à reprodução e à atualização da cultura pelos meios institucionais a partir da escola formal.


 José Simon atuou numa única escola municipal rural e na qual foi, ao longo de trinta anos, o docente - simultâneo e único - das quatro séries do ensino primário. Liderou diversos afazeres culturais da comunidade, na qual estava inserida a ESCOLA RURAL do MANEADOR- SARANDI - RS, sem se cuidar da sua própria família.
Foto do arquivo da Família José Simon aos cuidados de Nilza Simon Thums – Não Me Toque
Fig. 01 – Prof JOSÉ SIMON (24.02.1908 – 18.01.1992)

O presente texto teve a sua primeira versão para registrar o centenário (24.02.2008) do nascimento deste professor. Esta versão inicial é adaptada, agora, à um blog. Subdivide-se o seu conteúdo em oito capítulos socializados progressiva e sucessivamente na rede mundial.
O princípio de que a recompensa de uma OBRA está nela mesma motiva o presente texto. Assim não se trata de uma biografia laudatória e personalista, nem a exaltação de discípulos e estudantes vitoriosos e bafejados pela fama. Trata-se do reencontro simbólico do cotidiano de cidadãos, que criaram a OBRA da sua própria comunidade e da sua ESCOLA - e sustentaram - a continuidade de uma parcela de uma civilização e não abdicaram dela apesar da mudanças formais. Trata-se do encontro simbólico, no âmbito da memória, das gerações atuais com uma parcela da OBRA daquelas do passado. OBRA que possui a continuidade no tempo por meio de instituições educacionais de formas diferentes, mas com as suas raízes e os reforços da mesma civilização. Tanto aquelas do passada como do presente são pessoas que sabem deixar para a comunidade muito mais do que receberam dela. Escreve-se este texto para pessoas com pretensões à autonomia, à liberdade e para membros do poder originário de uma nação ou estão no trabalho e no caminho de alcançar este ideal.
O autor da presente texto é eterno devedor deste projeto civilizatório do município de Sarandi. Ele é filho deste professor rural. Como tal julga-se nutrido pelas beneméritas iniciativas que agora buscam garantias na memória da origem e do continuum das institucionais das quais depende uma civilização. Instituições que pretenderam mostrar, um dia, alguns lampejos do que pretendiam. Origem de um continuum benfazejo apesar de constarem, no presente, apenas na memória.

Apresenta-se, a seguir uma visão geral dos sete demais textos deste trabalho

2 - A ESCOLA RURAL do MANEADOR como ÍNDICE de um PROJETO CIVILIZATÓRIO

No 2º texto da série se estudará a ESCOLA RURAL do MANEADOR. Ela será vista como um pequeno índice do imenso projeto civilizatório mantido pelo município de Sarandi-RS, pelas comunidades do Maneador e do Mirim e da maior e melhor parte da vida do seu mestre. Nesta amostra evidencia-se a educação pública e universal das crianças, como sendo a peça motivadora e central. deste projeto civilizatório, .
O presente texto é escrito e publicado apesar de há meio século esta experiência não existe mais fisicamente. Interrompeu-se o funcionamento da Escola, dissipou-se no passado a algazarra das crianças, o som dos seus alegres gritos, o seu sonoro “Bom Dia” dado ao transeunte na ida ou na volta das suas aulas. Dissipou-se a jurisdição o município de Sarandi que perdeu a administração sobre esta área e a OBRA do professor ESCOLA MUNICIPAL do MANEADOR vive apenas na lembrança dos seus ex-alunos Talvez por isto mesmo a urgência e a necessidade de escrever e fazer circular presente texto. Motivado por esta necessidade e urgência, este texto constitui porfia contra a queima da memória desta etapa. A queima de etapas sempre produz muitas cinzas, dores. Elimina a porta para gáudio e progresso da barbárie primitiva, abre o trânsito com facilidades totais para os irresponsáveis de toda ordem e matizes e que avançam sobre terra arrasada da memória de uma civilização em declíneoa.
Diante disto o presente trabalho busca razões da ausência desta realidade empírica e física. Cultiva e reconstrói parcelas desta memória do passado e os destina aos contemporâneos mergulhados e absorvidos apenas com as suas circunstâncias atuais.
Foto do arquivo da Família José Simon aos cuidados de Nilza Simon Thums – Não Me Toque
Fig. 02 – A Escola Comunitária particular e mantida apenas com os recursos da comunidade
Uma foto do dia 14 de janeiro de 1933. Contudo esta liberdade do cultivo da língua do imigrante foi tolhida com o Estado Novo (1937-1945) subsequente da Revolução de 1930

3 - O PROFESSOR da ESCOLA do MANEADOR
O foco do 3º texto relativo à ESCOLA RURAL do MANEADOR é seu o docente. José Simon foi professor, ao longo de 30 anos, nesta comunidade de agricultores dos quais muitos eram seus próprios familiares.
Esta comunidade havia aberto nova fronteira agrícola e se estabeleceu em duas linhas rurais paralelas. Este fato ocorreu na 3ª fase da ocupação do território do Alto Uruguai e neste momento era realizado pelos descentes os imigrantes europeus que se deslocavam. A área geográfica pertencia à administração do município de Passo Fundo quando quando ocorreu esta ocupação. A autonomia de Sarandi foi conquistada em 1938. Com isto a Escola do Maneador tornou-se- municipal. Ela foi extinta e a sua área geográfica pertence hoje ao município de Nova Boa Vista
Fig. 03 – A Genealogia de José Simon como descendente de 4ª geração de Mathias Simon.
Clique sobre as figuras para ampliá-las

José Simon era filho de Miguel Simon Jr e Ana Maria Liell. Nasceu no dia 24 de fevereiro de 1908 em Campestre pertencendo, na época, ao município de Montenegro. Depois dos seus estudos em Bom Princípio transferiu-se-, como os demais irmãos, para as Colônias Novas, mais precisamente par a Linha MANEADOR MIRIM. A pedido desta comunidade internou-se, ao longo de dois anos, no “Lehrer Seminar” (Escola Normal Rural) de Hamburgo Velho no prédio que é hoje a Escola Alberto Pasqualini. Retornou ao Maneador Sarandi iniciando uma carreira de 30 anos numa escolinha de madeira para a qual acorria toda a infância das Linhas Mirim e Maneador. Exercendo para a comunidade os cultos, a organização de festas religiosas e sociais, dirigiu durante 40 anos o coral da comunidade e inclusive presidia os enterros.
No âmbito familiar casou com Lucila Klein Talheimer no dia em 05 de outubro de 1935. Deste matrimônio teve 6 filhos. Ao se aposentar administrou, junto com a sua esposa, a “venda” de Maneador. Desta atividade passou para a mesma em Não Me Toque onde passaram a residir, ele e os seus filhos, exercendo a mesma a atividade comercial. Escolheram também a cidade devido ao atendimento hospitalar e ao serviço médico necessários para a sua idade e saúde debilitada pela idade e pela dura vida numa fronteira agrícola. Foi chamado de volta para Sarandi para receber o mérito pela sua direção pelo Coral e o título de Cidadão de Sarandi. Faleceu no dia 24 de janeiro de 1992. Depois disto a cidade de Sarandi deu o seu nome à uma artéria da cidade
Foto do arquivo da Família José Simon aos cuidados de Nilza Simon Thums – Não Me Toque
Fig. 04 – FAMÍLIA JOSÉ SIMON no MANEADOR .
A Família José Simon reunida no Maneador para o casamento da filha Zita com José Aloisio Hartmann no dia 12 de outubro de 1968.
Sentados – [da esquerda para a direita do observador] José Simon. Márcia Simon, Ivani Kerber, Zita Simon e José Aloísio Hartmann (nubentes) e Lucila Simon.
De pé [na mesma ordem] : Imelda Simon Kerber, Roque Kerber, Gisela e João Hugo Simon, Maria Simon, Círio Simon, Marli (nenê no colo de) Nilza e Arlindo Thums .

A maior e a melhor parte da vida de José Simon foi dedicada a escola rural e para a comunidade que a mantinha. Único professor simultâneo de quatro adiantamentos do “primário” da época. Nesta única sala chegaram a reunir-se simultaneamente 55 crianças. Nunca teve assistente. Para se comunicar com os seus estudantes, que apenas conheciam o idioma alemão materno, ele precisava encontrar estratégicas didáticas e culturais para introduzi-los na língua pátria. Sob severa vigilância ao longo do Estado Novo ele era impedido de qualquer comunicação na língua materna dos seus alunos.

4 - LOCALIZAÇÃO CULTURAL da ESCOLA do MANEADOR.
Um 4º texto localiza a ESCOLA do MANEADOR nas suas circunstâncias geográficas locais, no seu tempo e na sua base econômica. Economicamente estava-se repetindo o processo do minifúndio já esgotado nas ANTIGAS COLÔNIAS do Rio Grande do Sul e que estavam ingressando numa industrialização incipiente. Enquanto isto as NOVAS COLÔNIAS viviam e repetiam o processo de ocupação de uma nova fronteira agrícola como haviam praticado seus antepassados. Repetiam também devido a sua fragilidade econômica por não serem os mais abonados que iniciavam uma nova vida para elas e a sua prole. Na maioria eram filhos de famílias numerosas, nascidos nos ANTIGOS minifúndios esgotados e que necessitavam encontrar um início de vida, à maneira dos seus ancestrais, nesta nova fronteira agrícola. Contudo, como seus ancestrais, traziam - na sua rica a e variada cultura - a necessidade de uma escola para a próxima geração.
Fig. 05 – AS LINHAS MANEADOR ALTO e MANEADOR MIRIM
Nova Boas Vista, Maneador Alto e Maneador Mirim. Esta Linha Colonial do Mirim foi o destina da maioria dos irmãos do Prof. José Simon e onde ele fixou também a s a sua 1ª residência. Estrada rural do Maneador Alto é a conexão atual de Nova Boa Vista com a BR 386 [Estrada de Produção] e a sede municipal de Sarandi. Ao lado da escola estava a primeira igreja de madeira de Maneador. O cemitério continua.

A fase da primeira da ocupação, da exploração e da consolidação da nova fronteira agrícola do Maneador e Mirim cabe entre os anos de 1920 e 1960.
Neste período a Revolução de 1923 deixou marcas e lembranças amargas pelos enfrentamentos entre Maragatos e Pica-Paus cujo ponto fulcral ocorreu em Boi Preto no vizinho município de Palmeira das Missões.
A Quebra da Bolsa de Nova York, a Revolução de 1930, com a passagem da tropas em Carazinho e as consequências econômicas tiveram reflexos negativos, mas também positivos. De positivo, os produtos agrícolas nacionais tiveram mais procura e davam retorno ao agricultor, numa visão ampla desta passagem para uma nova fase republicana.
De negativo os anos da Estado Novo e da Guerra de 1939 a 1945 trouxeram suspeitas e vigilâncias descabidas e ressentimentos que bloqueavam a circulação e as oportunidades de ascender aos poderes públicos constituídos e de dialogar com eles.
O pós-guerra, entre 1945 e 1960, trouxe profundas mudanças pelos modos de produção agrícola quando despontavam os primórdios das máquinas, dos insumos e a introdução de cultivares que necessitavam de tratos intensivos e cada vez mais implementados controlados pelas Ciências Agrárias.
Após 1960 o minifúndio não resistiu. Muitos dos nascidos nesta ambiente e com estes hábitos e mentalidade transformaram-se nos “Sem Terra”, que já é uma outra história.

5 - O PROJETO CIVILIZATÓRIO COMPENSADOR da ESCOLA do MANEADOR.

No 5º texto examina-se a natureza e o funcionamento interno da ESCOLA do MANEADOR e o projeto civilizatório que foi possível para as competências e limites desta micro instituição. A tarefa cabia ao professor também como SERVIDOR PÚBLICO. A maioria dos servidores públicos praticavam a legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência muito antes de constarem explicitas no texto da Constituição de 1988. O professor José Simon perfilava-se nestas diretrizes.

Foto do arquivo da Família José Simon aos cuidados de Nilza Simon Thums – Não Me Toque
Fig. 06 – MAGISTÉRIO PÚBLICO MUNICIPAL de SARANDI em ENCONTRO ANUAL
No período não letivo do verão, ocorriam, na sede municipal, os encontros do magistério de Sarandi, quando todos os doentes recebiam orientações para o próximo ano letivo e se conectavam diretamente com as autoridades municipais de todas instanciais e natureza. O professor José Simon encontra-se na primeira fila com gravata e com os braços cruzados sobre o peito

Estes SERVIDORES PÚBLICOS tinham de superar as fragilidades internas e externas. Internamente estes agentes necessitavam superar as naturais dificuldades provenientes dos parcos recursos de toda ordem de uma fronteira agrícola incipiente. Externamente necessitavam conectar e representar a comunidade diante do município, do estado e da nação brasileira que continuavam a nutrir reiteradas desconfianças e preconceitos diante da cultura diferente desta comunidade. Contudo, as adversidades internas da comunidade não era só de natureza econômica. Nela conviviam culturas diferentes e trazidas por agricultores de sua comunidade de origem, como havia diferenças de ideologias e era necessário superar interesses de faixas etárias e grupais. No lado externo não reinava só desconfianças e preconceitos. Havia também agentes municipais, estaduais e federais a altura dos seus cargos e que, no exercício das suas funções, conheciam, apoiavam e promoviam o que havia de melhor para ambas as partes. Para exemplificar este apoio externo, basta citar a transformação da ESCOLA RURAL PARTICULAR do MANEADOR em ESCOLA MUNICIPAL e com função e cargo público vitalício e remunerado. Evidente que isto tinha a sua contrapartida no controle público, em especial ao longo do Estado Novo nacionalista e centralista. O professor rural, além de sua funções profissionais do seu cargo, tinha de encontrar - sozinho e com as próprias forças e luzes - um ponto de equilíbrio homeostático entre estas múltiplas, disparatadas e dos mais diversos níveis culturais. Esta solidão era amenizada pelas reuniões anuais como mostra a figura 06 - acima.

A ESCOLA RURAL das comunidades do Maneador e do Mirim de Sarandi-RS, não era uma escola agrícola profissionalizante. Os seus estudantes estavam recebendo as primeiras noções e as informações básicas da cidadania para estarem munidos de um conhecimento e uma mentalidade para enfrentar o mundo em todas as dimensões e profissões dignas e honestas. Isto incluía a possibilidade de ir buscar uma escola agrícola. A Escola Técnica Agrícola [ETA], iniciado pela Escoa de Engenharia de Porto Alegre ao paradigma das Land School Americanas. Entre os estudantes do ETA estava Leonel Brizola, alguém saído das coxilhas próximas de Carazinho.
Por não pretender ser uma escola agrícola preparatória não houve formação de hortas ou qualquer trabalho infantil. Isto, na época, ainda era repassado na prática doméstica e familiar.
A Escolinha Rural do Maneador - encarrapitada sobre uma coxilha vermelha ao lado da igrejinha e Campo Santo - apontava para o Norte Geográfico. Ela significava também um norte e uma resistência diuturna na espera de melhores dias, tanto para os seus estudantes, para seus atarefados pais e para professor atento e sempre presente. Não eram dias melhores para ESCOLA em si mesma, pois não os teve, mas para as sucessivas levas de seus estudantes e a certeza para os pais de um dever cumprido com a nova geração que deveria sucedê-los.
Estudantes que se perfilavam na frente de sua única e pequena porta para cantar o hino nacional, para galgar, em seguida, a sua escadinha de cinco degraus de madeira, para iniciar as suas atividades de cada dia. Vestindo as suas blusas brancas, ostentando as letras EM bordadas em azul. A sua imagem se compunha dos cabelos e faces louras, com olhares tímidos e encabulados. As suas falas não seguiam nem gramática portuguesa nem a germânica. Falavam um alemão arcaico que era objeto de escárnio da parte dos recém vindos de Berlim. Venciam, a pé, distâncias de 4 a 5 Km, carregando as suas sacolas de pano com a lousa de pedra ardósia, parco material escolar e sua merenda, antes de se perfilarem neste cerimonial da porta da escola.
O ritual continuava no interior com as recitações das rezas tradicionais da comunidade agora em língua nacional. As rezas em vernáculo culto, propiciava-lhes o processo de comparação dos vocábulos da língua portuguesa com as mesmas rezas realizadas no âmbito doméstico na sua língua materna e gerava o hábito da gradativa incorporação e aquisição do idioma nacional.
Fig. 07 – O RITUAL de uma ESCOLA RURAL na FRANÇA de 1900-
Os estudantes estão no ritual de mostrar as suas lousas com os temas de casa. Estão uniformizados com as sua roupas escuras com pequenos botões dourados
Esta cena e este ritual repetiram-se na Escola Rural do Maneador até 1950.
Findas estas rezas era ocasião de mostrar ao professor os exercícios feitos, nos seus domicílios, dos dois lados da lousa de ardósia, ou “pedra” - segundo a sua fala. Exercícios que eles haviam escolhido conforme os seus interesses e repertórios. A seguir, enquanto o professor se ocupava com o ensino das classes mais adiantadas das disciplinas do currículo determinado pelo município em língua nacional, ele destacava os 4ª série para tomar as lições da cartilha “Queres Ler” dos calouros da 1º série.
O momento mais esperado era o início do “recreio”, ou intervalo de meia hora e destinado à merenda preparada pelas mães e que cada um trazia de casa. Normalmente esta merenda era trocada num comércio alimentar entre as crianças que certamente seguiam o impulso natural da complementação daquela que lhes era habitual no seu lar.
A manhã terminava com a recitação, em voz alta e coletiva, das diversas tabuadas. Encerravam com as rezas do Ângelus e as respectivas badaladas do sino da capela. As famílias, com estas badaladas, também sabiam, e esperavam o retorno dos escolares para os seus lares para servir a refeição principal do dia. Nestas múltiplas idas e voltas das crianças da escola não houve registro de acidente ao longo dos 30 anos do magistério do Prof. Simon.

6 - A LOGÍSTICA ou o MATERIAL do ESTUDANTE da ESCOLA do MANEADOR
Num 6º texto considera-se a logística, as estratégias e as táticas da ESCOLA RURAL do MANEADOR. Os estudantes sentavam, por séries de adiantamentos, em longas classes coletivas de madeira com banco, gaveta e carteira com um furo para a tinta. Esta tinta líquida era distribuída só partir da 3ª série. Antes disto todo o trabalho era realizado nas lousas de pedra de ardósia. A partir da metade do “Primário” os exercício e caligrafia feita na lousa eram passadas aos cadernos de escolares. Usando penas metálicas adaptadas à caneta com cabo de madeira, pintada com lacre colorido.

Foto Círio Simon em 30.11.2008
Fig. 08 – A LOUSA de PEDRA ARDÓSIA, o LAPIS do MESMO MATERIAL e a SACOLA ESCOLAR do ESTUDANTE
Peça do acervo do Museu Olívio OTTO – Carazinho - RS

O objetivo maior da escola era a socialização e o fortalecimento dos laços da nova geração entre si e reforçar institucionalmente contato com a geração anterior que mantinha a instituição. A língua nacional era um objetivo comum no processo de ensino aprendizagem para que as crianças do Maneador e Mirim pudessem circular em todo território nacional e procurar ampliar os seus horizontes sociais, culturais e econômicos. De mais imediato e utilitário, a escola visava o domínio da leitura, da escrita e o contar e calcular nesta língua nacional..

7 - AS LUTAS PERDIDAS de um PROFESSOR da ESCOLA RURAL do MANEADOR
Num 7º texto iremos percorrer as dúvidas, tropeços e lutas perdidas pela escola e seu docente. Toda civilização viva atravessa dúvidas, tropeços e lutas perdidas, ao longo de seu desenvolvimento .
Como todo líder pode ser acusado de CULPADO de TUDO, o Professor Simon também sentiu-se culpado e não aceitava certas realidades que corriam contra a vontades de todos e mais conscientemente da parte dele. A mais gritante eram as condições e os riscos que a infância corria antes de chegar até a idade escolar. Em especial durante as privações de II Guerra Mundial quando escasseavam não só os produtos industriais s básicos.. Racionava-se drasticamente tudo inclusive o combustível que na época o Brasil não produzia. O “gás-pobre” que movia os veículos, era um paliativo. Mas poucas crianças tinham acesso à saúde já que a comunidade dependia e tinha a sua confiança depositada nos seus médicos de Não Me Toque, e que distava 60 km do Maneador. Assim seguidamente tinha de presidir os funerais de crianças. Voltava arrasado destas cerimônias de despedida definitiva de mais uma das esperança da comunidade.
Felizmente quando as crianças chegavam à idade escolar não há registro de nenhum óbito.
Contudo o que o atingiu em cheio foi ver o encerramento definitivo da escolinha das linha rural do Maneador e do Mirim. Apesar da nomeação de novos docentes, para esta comunidade e da construção de um pavilhão de alvenaria para substituir a antiga escolinha, de uma única sala, ela estava entregando os pontos também nas linhas Maneador e Mirim.

08 - CONCLUSÕES
Após meio século do encerramento desta experiência cultural é possível realizara algumas avaliações. Num 8º e último texto é possível lembrar que este processo educacional foi acompanhado de sofrimento e de iniciativas que exigiam fatias consideráveis do bem estar de populações inteiras.
A população pobre e analfabeta francesa preparou-se para a Grande Revolução que iniciou a Contemporaneidade frequentando escolas dominicais após as fatigantes tarefas que uma sociedade da época impunha a populações inteiras. E sustentou com as sua escolinhas rurais estas conquistas ao longo da III República Francesa como é possível conferir no site http://www.musee-ecole.fr/
A ESCOLA RURAL de MANEADOR - SARANDI – RS além de sua extinção física e institucional, não teve a fortuna de trazer para ao mundo concreto alguns dos seus melhores projetos ou então ficaram no meio do caminho.
Contudo pode-se resumir que a ESCOLA RURAL de MANEADOR - SARANDI – RS dedicou-se intensa e coerentemente à reprodução e à atualização da cultura do seu tempo pelos meios institucionais. Ficaram na memória, não só de uma era agrícola do minifúndio tradicional, mas também de uma escolinha, com as paredes de madeira donde se despendiam os óculos dos buracos de nó de pinho, mas que foi uma instituição que contribuiu, como sentinela avançada, para uma civilização. Este fato confere-lhe a certeza de um dever cumprido na sua época com a nova geração que deveria sucedê-los em outras circunstâncias e lugares.

SUMÁRIO dos TEMAS deste BLOG
em RELAÇÃO ao PROFESSOR JOSÉ SIMON e a ESCOLA RURAL de MANEADOR - SARANDI – RS”,

1º texto é uma INTRODUÇÃO ao ESTUDO da OBRA de JOSÉ SIMON e SÌNTESE dos TEMAS

2º texto trata da ESCOLA RURAL de MANEADOR como um dos ÍNDICES do PROJETO CIVILIZATÓRIO mantido pelo município de Sarandi-RS e pela comunidade do Maneador e Mirim

3º texto o PROFESSOR da ESCOLA do MANEADOR

4º texto LOCALIZAÇÃO CULTURAL da ESCOLA do MANEADOR

5º texto o PROJETO CIVILIZATÓRIO COMPENSADOR da ESCOLA do MANEADOR.

6º texto a LOGÍSTICA ou o MATERIAL do ESTUDANTE da ESCOLA do MANEADOR

7º texto DÚVIDAS e as LUTAS PERDIDAS de um PROFESSOR da ESCOLA RURAL do MANEADOR

8º e último texto CONCLUSÕES é possível realizar algumas avaliações após meio século do encerramento da experiência cultural da ESCOLA RURAL do MANEADOR.

MATERIAL LOGÍSTICO DESTE POST.


FAC-SIMILE e TRANSCRIÇÃO DIGITADA do LIVRO de ATAS das VISITAS dos INSPETORES de ENSINO do MUNICÍPIO de SARANDI à ESCOLA RURAL SÃO JOSE do MANEADOR. Do original deste Livro de ATAS foram preenchidas 14 (quatorze) folhas frente e verso.

IMAGENS do MANEADOR do MANEADOR de DIVERSAS ÈPOCAS. Fotos do arquivo da Família José Simon aos cuidados de Nilza Simon Thums – Não Me Toque - RS

MATERIAL NUMÈRICO DIGITAL RELATIVO à ESCOLA RURAL

FRANÇA – BRETANHA – TRÉGARVAN - MUSEU da ESCOLA RURAL

ALEMANHA Baviera– Escola técnica agrígola

ESTADO UNIDOS – Escola alternativa no campo

QUADROS DIDÀTICOS para a ESCOLA PRIMÁRIA FRANCESA

IMAGEM de ESTUDANTE PRIMÀRIO FRANCÊS ESCREVENDO COM CANETA DE PENA de AÇO

MUSEU OLIVIO OTTO - CARAZINHO - RS

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sábado, 26 de março de 2011

A Cultura dos SIMON e a Educação Formal – 02


.
O Professor PEDRO EMANUEL SIMON (1888-1966) no trabalho da
REPRODUÇÃO e a ATUALIZAÇÃO da  CULTURA pelos meios INSTITUCIONAIS  a PARTIR da ESCOLA FORMAL.
FONTES: Arquivo fotográfico de Pedro Emanuel Simon aos cuidados do Jornalista Camilo Simon – Porto Alegre – RS
Jornal dos Simon. Porto Alegre : Associação da Família Simon e Afins,, nº 41. mar.. 2011, p. 3
Fig. 01 – Pedro Emanuel SIMON professor na Colônia Palma-RS
Foto do  dia 11 e junho de 1918
A figura de PEDRO EMANUEL SIMON  personifica a EDUCAÇÃO. Uma educação  respaldada por  sólidos princípios culturais, adquiridos em límpidas fontes de uma tradição ainda viva, em permanente circulação e em constantes mudanças de toda ordem
Agindo como docente da mocidade no interior brasileiro, PEDRO EMANUEL SIMON iniciou seu trabalho educativo no chão de uma sala de aula. Ampliou este trabalho como regente de corais e bandas de música de adultos e de crianças. Quando  PEDRO EMANUEL SIMON, passou a residir e trabalhar no meio urbano, jamais esqueceu ou renegou  a origem de suas ações pedagógicas. No meio urbano foi-lhe propiciado expandir o seu projeto para o âmbito de toda a sociedade. O docente manteve-se cercado pela afeição de todos os seus familiares vivos e no cultivo da memória dos antepassados. Afeto e memória construída e alimentada pela mentalidade arraigada auferida no exercício do magistério praticado no chão da sala de aula. Percebia a sua interação, com toda a sociedade, como se ela fosse uma sala de aula ampliada. Nesta sociedade interessava lhe a circulação do poder originário na medida em que este fluxo expressava a vida comunitária, a familiar ampliada, de associações e de instituições. Mantinha este interesse na somatória de todos estes vínculos sociais e culturais, sem usufruir subsídios extras, maximizando os seus parcos e limitados recursos econômicos. Estas interações, altruístas e civilizatórias, podem ser exemplificadas pela sua ação como agente do ensino-aprendizagem do esperanto. Este estudo o colocava, os seus discípulos e aos seus colegas no âmbito da cultura planetária, ultrapassando  barreiras idiomáticas das diferentes línguas.
Arquivo fotográfico de Pedro Emanuel Simon aos cuidados do Jornalista Camilo Simon – Porto Alegre - RS
Fig. 02 – Pedro Emanuel SIMON como Professor na Colônia da Palma em 1918.
Visíveis os signos e os símbolos do Regime Republicano brasileiro.
Escrito na lousa a frase “A felicidade dos povos e a tranqüilidades dos Estados dependem da boa educação da mocidade”.[1]
Na janela, da esquerda, aparece a imagem do fotógrafo

Conduzia as suas energias para vencer os desafios e as propostas de soluções a partir destes propósitos gerais. Agia como um regente de orquestra e coral valendo-se  da Música como um instrumento pedagógico. Graças este mestre os amplos círculos de amigos que se formavam ao seu redor ainda continuam a harmonizar sentimentos e gestos. Harmonizam-se, e agem, muito tempo após o seu desaparecimento, reforçando conhecimentos e vontades orientadas pelos laços familiares que ele descobriu e cultivou com intensidade e desprendimento ao longo de sua vida física. Documentando a história e descendência dos seus, ele conseguiu formar os círculos que  prometem manter-se unidos.  Círculos e núcleo  unidos em sólida união graças à sua documentação. União dinâmica que PEDRO EMANUEL SIMON reuniu e conferiu um sentido. Sentido para o qual generosa e gratuitamente despendeu energias e forças em vista do bem e da identidade de um todo único ao modelo da harmonia produzida por uma grande e atemporal orquestra e coro.


[1]   - Adaptação da frase: “A felicidade dos povos e a tranqüilidades dos Estados dependem da Boa educçao da Juventude” do estadista espanhol Emílio Castelar y Ripoll (1832-1899) Emilio Castelar y Ripoll   Ver  http://en.wikipedia.org/wiki/Emilio_Castelar_y_Ripoll


Fig. 03 – Pedro Emanuel SIMON é da 4ª geração do patriarca Mathias Simon

Para quem perguntar - QUEM FOI PEDRO EMANUEL SIMON?, não só falta espaço para responder neste breve artigo, como o presente, mas são impossíveis de abarcar, numa visão única e completa, a pessoa, a mentalidade deste professor, o dentista,  o animador cultural, o músico, o esperantista e o genealogista da família. Agindo acima  e muito além do pequeno contexto cultural, que encontrou em nosso meio, não lhe cabe discurso pronto, clichê nem um pensamento único. Para abarcar esta pessoa e as suas circunstâncias é necessária a somatória de todos os conhecimentos, vontades de quem hoje usufrui o direito de identidade familiar que ele conseguiu suscitar e fazer agir numa mesma direção. Para formar um esboço de biografia  há necessidade de uma legião de pesquisadores, de profissionais de arquivo e comunicadores sociais.
A origem de PEDRO EMANUEL SIMON era uma família numerosa ao estilo daquelas que  caracterizaram  o apogeu da era agrícola e imediatamente anterior a era industrial e a urbanização. Época em que o Brasil atingiu o pico da produção do café. No Rio Grande do Sul colhiam-se os primeiros resultados consistentes da colonização pelo minifúndio. Minifúndio  potencializado ao máximo por uma prole numerosa, imediata e diretamente engajada neste modo de produção. JOSÉ SIMON, pai  de Pedro Emanuel, era o 2º  entre 16 filhos  da família de Mathias Jr e este era o 8º filho de Mathias Simon. Por sua vez Pedro Emanuel  era o primogênito  de 14 da sua família (fig. 03). Deve-se a JOSÉ SIMON levar e potencializar, por meio da “venda”, do salão comunitário e pela continuidade do moinho do seu avô Mathias Simon, esta prole dependente da pequena propriedade agrícola
Arquivo fotográfico de Pedro Emanuel Simon aos cuidados do Jornalista Camilo Simon – Porto Alegre - RS
Fig. 04 – Regina BREITENBACH  a 1ª esposa de Pedro Emanuel SIMON.
 A imagem de casal típico da “Belle Epoque” da 1º República Brasileira

 É possível especular que foi nas carências e apertos vividos fisicamente nesta pequena propriedade agrícola, porém com amplos horizontes culturais, que PEDRO EMANUEL SIMON percebesse muito cedo os seus limites e as suas grandes competências. Primogênito de 16, de sua família, e nas circunstancias de uma civilização incipiente, teve de tomar cedo nas suas mãos a sua história  e conferir-lhe um destino. A semelhança dos homens do Renascimento, que modelaram um novo mundo, teve de buscar fora da pequena propriedade agrícola  e da casa paterna a sua realização e a construção de novos mundos para ele, e onde coubessem todos aqueles que puderam permanecer no meio rural.
Realizou  a construção destes novos mundos sem apropriar-se apenas de cargos, de posições políticas socialmente relevantes e vantajosas no exercício do poder. Também não se cercou das benesses do capital monetarista. Colocando ao nível e ao centro do poder originário conduziu a sua vida pública sem temer o anonimato de sua ação.
Contudo não buscava o anonimato, ao nível e ao centro do poder originário, para se esconder. Buscava mergulhar numa vida e numa consciência coletiva como é possível observar na maioria nos líderes do Rio Grande do Sul desta época e que não personalizavam as suas  ações públicas. Não se sabe se PEDRO EMANUEL SIMON, usava um pseudônimo para manter-se vinculado ao poder originário, como fizeram muitos dos seus contemporâneos, ao estilo dos heterenômios de Fernando Pessoa.
Fontes Jornal dos Simon. Porto Alegre : Associação da Família Simon e Afins, Ano IX, nº 14. set. 1991 p. 3 
Arquivo fotográfico  aos cuidados do Jornalista Camilo Simon – Porto Alegre - RS
Fig. 05 – Maria  FERREIRA da SILVA,  a 2º esposa de Pedro Emanuel SIMON.

Para entender e avaliar o legado de PEDRO EMANUEL SIMON,  é necessário examinar a origem de uma mentalidade  e quando ocorreu  sua ação. Nascido junto com República Brasileira, e como cidadão deste regime, sentiu-se a vontade para circular nos mais diversos ambientes que o período inaugural do novo  espaço público estava tentado fazer viver. Ao examinar os símbolos e signos,  que aparecem na figura 02 deste texto,  é possível identificar índices claros desta sua mentalidade republicana.
Fontes in Jornal dos Simon. Porto Alegre : Associação da Família Simon e Afins, Ano IV, nº 3. fev. 1983, c p. 6
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Fig. 06 –Pedro Emanuel SIMON e seus irmãos
Sentados da [esquerda para direita] José Júlio – Pedro Emanuel – João Alfredo – Conrado Alcides
De pé [mesma ordem] João Paulino – Pedro Nicolau – Roberto Arnildo
Foto de 1933 após a Revolução de 1930 e Qubra da Bolda de 1929. 
 Permanece o hábito e o espírito da “Belle Epoque”.

É necessário colocar PEDRO EMANUEL SIMON no clima cultural da Belle Epoque para perceber os traços marcantes da mentalidade de quem teve de tomar nas suas mãos a sua história  e conferir-lhe um destino.
Contornando qualquer tendência partidária ou doutrina ideologia específica, as projeções do espírito da cultura do “Fin-du-Siècle” fluíram também no interior, no meio rural inclusive no minifúndio. Ainda não foram estudados e publicados os reflexos e as projeções subliminares deste espírito na cultura do interior e no meio rural. O minifúndio mantinha uma interação direta como meio urbano. Interação animada pela ativa e poderosa classe dos caixeiros viajantes que faziam circular as mercadorias nacionais e internacionais num comércio no âmbito das COLÔNIAS. Interação continua que procurava equilibrar o meio rural com o urbano. No meio rural destas colônias ainda são visíveis vestígios de grandes e aparatosas residências dos agricultores mais prósperos. Residências, não só visíveis nas fazendas de café de São Paulo, mas encontram-se também vestígios destas construções no atual município de São José do Hortêncio[1]. Empreiteiros imobiliários, construtores, técnicos especializados, representantes de lojas e vendedores de materiais de construção percorriam o meio rural oferecendo serviços e recursos para a construção de residências e benfeitorias com tipologias próximas dos palacetes urbanos da época.


[1] - RESIDÊNCIAS RURAIS em SÃO JOSÉ do HORTÊNCIO – RS  ver http://www.saojosedohortencio.blogger.com.br/



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Fig. 07 – Pedro Emanuel SIMON regente de Coral e de Orquestra

O jovem PEDRO EMANUEL SIMON partiu do núcleo da sua origem familiar do meio rural que se movia com fundamentos econômicos e materiais próprios e distintos do meio urbano. Manteve interações continuadas com a sua base e origem ao longo dos seus 78 anos de existência.  Mesmo com os recursos e os aparatos dos nossos atuais seria difícil  atingir e reproduzir os resultados desta interação que PEDRO EMANUEL atingiu. Para manter vivas estas interações,  interessava-se em todas as minúcias e instantes, movendo-se de pesquisa em pesquisa. Com raro senso de “just-of-time” aproveitava as circunstâncias em que os  seus interlocutores ainda mantinham intacto o mesmo repertório de sua juventude. Como sábio pesquisador captava as práticas culturais repassadas de geração em geração. Porém ele  não gerava, infiltrava ou impunha hierarquias do meio urbano carregados de poderes cristalizados e desproporcionais aos seus interlocutores rurais.
Ao iniciar a sua ação pedagógica no interior brasileiro, a organização e a manutenção da escola não vinham prontas e dadas pelo Estado paternalista. Ao contrário, havia necessidade da institucionalização de uma mantenedora. Esta mantenedora era constituída pelos membros da comunidade e que enviavam a sua prole a ela e a controlavam. Em muitos casos esta comunidade da LINHA COLONIAL já havia destacado e enviado para formação especifica no magistério fundamental.
O deslocamento pelo Rio Grande do Sul das residências de PEDRO EMANUEL SIMON é um índice desta necessidade de atender as comunidades que estavam organizando as suas escolas formais. Esta ampla circulação, que cobre boa parte do Rio Grande do Sul, pode ser acompanhada pelos lugares onde nasceram os seus filhos. Assim os encontramos registrados em Bom Princípio, Roca Sales, Corvo, Arroio do Meio e por fim Porto Alegre. Esta amplidão geográfica de sua ação também pode ser rastreada na vasta correspondência escrita, postada e recebida dos mais diversos pontos do estado.
Realizava estas buscas de uma forma desprendida, pois lhe interessava o entendimento  do fenômeno humano que modelavam e modificavam mentalidades e comportamentos nas NOVAS e as ANTIGAS COLÔNIAS. O meio URBANO lhe fornecia novos recursos de comunicação e de circulação dos poderes que o desenvolvimento de uma família pode suscitar. Nunca, porém, se viu Pedro Emanuel interferir ou projetar qualquer repertório alheio aos seus interlocutores. Abstinha-se  de conduzir conclusões que pudessem desorientar o seu interlocutor ou desviar a atenção dos entrevistados do seu repertório. Neste ponto a sua filha Paula[1] é explicita
“Papai possuía um arraigado espírito de “família” num sentido amplo da palavra. Nunca um parente chegou à nossa porta que não a encontrasse aberta [...] Quando alguém vinha ele ficava feliz, conversando em alemão com o parente, relembrando fatos, procurando saber notícias de todos os outros parentes que estavam longe, e mais tarde nos contava, com detalhes esta  conversas, durante os serões” ( Simon Ribeiro1983, p.3)
Talvez o legado ainda não foi sistematizado de PEDRO EMANUEL SIMON é a PARTE LOGÍSTICA e destinado para todos os que quiseram levar diante as suas pesquisas e ao qual necessitam recorrer. Contudo não se espere o arquivista frio e apenas profissional. Ao contrário, predominava nele  o lado afetivo e que a sua filha também evoca: sempre que vejo rodeado pelos parentes, nestas reuniões, onde sente-se vibrando no ar a afeição profunda que nos une, e a alegria por estarmos juntos, a lembrança do meu pai aflora à minha memória ( Simon Ribeiro1983, p.3)


[1] SIMON RIBEIRO, Paula “Pedro Emanuel meu pai...” in Jornal dos Simon. Porto Alegre : Associação da Família Simon e Afins, Ano IV, nº 8. Jan. 1983, p. 3



FONTE :Jornal dos Simon. Porto Alegre : Associação da Família Simon e Afins, nº 41. mar. 2011,
Fig. 08 – A profª Paula Silva Simon Ribeiro recebe os abraços de seu familiares pelo se aniversário no dia 27 de fevereiro de 2011. Filha, netos  e  bisnetos de Pedro Emanuel SIMON . Paula é graduada em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UFRGS e uma das mais reconhecias pesquisadoras  de Manifestações do Folclore sul-rio-grandenses . Abraçou a causa e a obra de seu pai co Presidente da Associação da Família Simon e Afins

Na CONCLUSÃO é necessário reconhecer que o Professor PEDRO EMANUEL SIMON trabalhou intensamente para constituir os suportes logísticos  da  CULTURA FAMILIAR e COLETIVA buscando estratégias para a sua  REPRODUÇÃO e a ATUALIZAÇÃO no âmbito de uma civilização em permanente mudança. Originário do meio rural ele valeu-se desta circunstancia e patrimônio de raiz para conectar esta energia com a ESCOLA FORMAL.  Ampliou no meio urbano a Cultura dos SIMON, unido-os pelos laços do conhecimento recíproco, pela vontade de criar o direito, em cada um dos membros, reconhecer a identidade que carrega nesta corrente de vida.
Contudo este ideal resiste a ser reduzida a um puro marketing epidérmico e formal, ou ações desconectadas da realidade das pessoas que o cercavam. Ele sabia expressar o seu próprio ENTE no seu modo de SER. Cabe a PEDRO EMANUEL SIMON o que Hannah Arendt descreveu (1983, p. 273)[1] em relação aos talentos:
 O que salva os grandes talentos, é que as pessoas que carregam os fardos permanecem superiores a aquilo que fazem, ao menos enquanto a fonte criadora permanecer viva, pois essa fonte brota de que eles são, ela é exterior ao processo da obra, e independente do papel que eles cumprem [...] É  elemento indispensável, para a nobreza humana acreditar que na individualidade do homem, o sujeito ultrapassa em grandeza e em importância tudo aquilo que ele pode fazer ou produzir”.
Pensamento que cabe ao artista, ao professor e ao pesquisador em geral, mas, de forma singular para a competência e para qualidade de PEDRO EMANUEL SIMON.  O depoimento de sua filha  - e atual presidente da Associação da Família Simon - Paula (Simon Ribeiro1983, p.3) é mais sintético e direto,  sentenciando em relação ao seu pai BOM é a primeira qualidade que me vem à mente. De uma bondade firme e segura. Honesto, com profundo senso  de propriedade e justiça”.   


[1] ARENDT, Hannah (1907-1975). Condition de l’homme moderne. Londres  :  Calmann-Lévy, 1983.



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Fig. 09 – Pedro Emanuel SIMON  em 1933


ALGUMAS FONTES RELATIVAS a PEDRO EMANUL SIMON

SIMON RIBEIRO, Paula “Pedro Emanuel meu pai...” in Jornal dos Simon. Porto Alegre : Associação da Família Simon e Afins, Ano IV, nº 8 jan. 1983, p. 3

“Homenagem a Pedro Emanuel Simon” in Jornal dos Simon. Porto Alegre : Associação da Família Simon e Afins, , nº 3. fev. 1983, capa e p. 6  - com fotos

Homenagem a Maria Simon”in Jornal dos Simon. Porto Alegre : Associação da Família Simon e Afins, Ano IX, nº 14. set. 1991 p. 3  - com fotos

“Recordando Pedro Emanuel Simon.” in Jornal dos Simon. Porto Alegre : Associação da Família Simon e Afins,  nº 15 jan. 1991, p. 6

“Parabéns a Pedro Emanuel” in Jornal dos Simon. Porto Alegre : Associação da Família Simon e Afins,, nº 31. set. 2007, p. 3

“A memória dos nossos antepassados Simon” in Jornal dos Simon. Porto Alegre : Associação da Família Simon e Afins,, nº 34. jun. 2010., p. 11

“Aula do Prof. Pedro E. Simon” in Jornal dos Simon. Porto Alegre : Associação da Família Simon e Afins, nº 41. mar. 2011, p. 3

BELLE EPOQUE

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