Espaço numérico digital destinado à circulação de informações culturais e de idéias provenientes de pessoas e dos afins dos descendentes físicos ou do pensamento de Mathias Simon (*05.05.1788 –+16.04.1866) e que ele materializou, em 1829, na migração com a sua família para a América.

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segunda-feira, 18 de março de 2013

SIMON: MEMÓRIAS nas AMÉRICAS - 01.


A CAMPANHA da RÚSSIA de 1812

*MOSCOU em CINZAS*


ROBEAU F. Batalha de Borodino – fragmento central

Fig. 01 – A campanha de seis meses na Rússia foi uma sequência de combates em descampados como o de Borodino travado no dia 07 de setembro de 1812. Nestes confrontos iniciais da invasão os franceses e seus aliados levaram a melhor, pois eram numericamente superiores e armados com os últimos produtos da indústria bélica da época. Os russos isolados não se entregaram. Recuaram para as estepes com um exército numérico e logisticamente inferior. Levaram o seu governo também pra o interior.


Mathias Simon (1788-1866) trouxe em 1829 para as Américas na sua memória um dos acontecimentos cruciais da humanidade.

Mathias estava envolto, em março de 1813,  nas consequências de uma das maiores tragédias que a humanidade pode armar para si mesma. Há duzentos anos a história da Europa enfrentava as consequências do trágico segundo semestre do ano anterior. A desastrada invasão da Rússia entre o dia 24 de junho ate 14 de dezembro de 1812  foi um dos ensaios das guerras que a era industrial patrocinou, armou e depois reproduziu. A França - liderada por Napoleão Bonaparte e os seus aliados - estava desmoralizada e o seu império a beira da implosão definitiva. A aventura  custou milhares de vidas, ruinas de toda ordem e caos incontrolável.  Apenas os vendedores de armas, de mantimentos e de vidas alheias lucraram e concentraram fortunas e um poder soturno e sinistro sem limites de fronteiras.   


Fig. 02 – Os franceses e os seus aliados levaram a melhor enquanto o verão e o outono propiciava um clima favorável às suas ações bélicas. Mas o “GENERAL INVERNO” chegou cedo para a maioria dos invasores que ficaram a mercê do frio e do gelo que neste ano começou relativamente cedo e com uma intensidade muito superior ao que os invasores haviam se imaginado e previsto.
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A cidade Hermeskeil, terra natal de Mathias Simon, era território francês desde 1793.  Na Campanha da Rússia de 1812 ele estava com 24 anos completos. Participou da marcha para Moscou como soldado da guarda francesa. Os desastres da Campanha da Rússia comparados à amarga despedida da sua terra natal à migração posterior para o interior das florestas bravias onde estava tudo para fazer por pior que tenha sido. Os efeitos morais, psicológicos e físicos dos desastres da Campanha da Rússia o mantiveram vinculado à terra da imigração. No velho continente permaneciam a insensibilidade e a mortandade provocada pela crença na tecnologia, no seu uso para qualquer pretexto e contra todos os principio de uma civilização. Crença na tecnologia e o poder das armas que rebrotaram vitoriosos na Europa, em 1870, e depois se reproduziram nas I e na II Guerras Mundiais.

Fig. 03 – O IMPÉRIO NAPOLEÔNICO e dos seus ALIADOS que se jogaram contra a RÙSSIA cobria quase todo continente europeu. Apesar de Portugal não participar oficialmente da invasão os partidários dos franceses formaram quatro legiões de granadeiros lusitanos ao exército sob o comando de Napoleão Bonaparte.
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Assistida, ao vivo, por milhões de olhos provocou narrativas de toda ordem. Por mais diversas que tenha sido cada um deles todos eles assustam, mas não demovem os vendedores de armas, de mantimentos e de vidas alheias até os dias atuais.

O próprio Napoleão passou os seus últimos dias na Ilha santa Helena, reescrevendo, reeditando as suas memórias.

Aproveita-se uma narrativa realizada por um oficial alemão a serviço dos russos e que retornou à Berlim no final de 1812. Esta narrativa consta no número de março de 1813 no Correio Braziliense, traduzida ao português e editada em Londres ainda em plena guerra contra Napoleão. Neste ponto é necessário ressaltar o uso da midia impressa neste esforço de guerra. ´E sabida a máxima nesta circunstância a primeira vítima sempre é a verdade.. Porém esta narrativa é sempre mais um recurso logístico, entre os muitos, para comparações entre ideologias, versões, mentalidades e culturas distintas.

Esta narrativa apareceu estampada no CORREIO BRAZILENSE, Nº 058 – março de 1813  pp. 357 até 365. Conserva-se a ortografia original.



Retirada dos Francezes de Moscow; por um official Alemaõ, no serviço de Russia; publicada na Lingua Alemaã, e impressa em Berlin, 1813.



O ultimo golpe porque devia espirar a liberdade da Europa, se tinha annunciado pelos Francezes com preparativos, e com tal apparato e estrondo, que exaltavam ao mais alto gráo o orgulho do soldado, e as esperanças do partidista do systema Francez: certo numero naÕ pensava senaõ em ultrapassar as Ruínas de Russia, e correr a poz de expediçoens romanescas, nos paizes distantes de Pérsia e índia. Napoleaõ tinha altamente pronunciado, que o irresislivel destino de Russia, a precipitava em sua queda. Elle deixava a descuberto os meios de execução pelo plano que tinha decretado de repellir os Muscovitas para além dos desertos de Ásia, como outros tantos bárbaros inimigos da civilização da Europa. A sua fama, a sua fortuna, e exércitos formidáveis, davam a suas palavras todo a importância, e todo o sério de uma prophecia. Taõ presunçosa linguagem, naõ éra entretanto própria a impor. Com effeito a parte pensante do publico naõ se deixava levar a plena confiança, na segurança de suas combinaçoens politicas e militares, entretanto que o commum dos espíritos redobrava na crença de sua infallibilidade.Ja as palavras propheticas de Napoleaõ pareciam cumprir- se: logo que o exercito Francez chegou ao Niemen, os Russos se retiraram de todas as partes, e abandonaram ao inimigo as provincias do Norte da Polônia ; estas arvoraram bem depressa o estandarte da rebelião, e se uniram aos Francezes. Napoleaõ tinha promettido a seus soldados, de os conduzir a Moscow. Ali, lhes disse elle, será o termo de vossos trabalhos, e de vossos esforços , ali vos espera uma paz gloriosa e toda a espécie de gozos.


Fig. 04 – Os exércitos de Napoleão Bonaparte concentraram onde é, em 2013, o território da Lituânia. Deste ponto a marcha até Moscou era de aproximadamente 350 km. Na invasão esta massa humana levou de roldão qualquer defesa até atingir Moscou e onde Napoleão havia prometido o final da campanha e a recompensa aos seus soldados. Porém os russos evacuaram a cidade e deixaram os criminosos comuns de reduzi-la em cinzas o que faro realizaram. O exercito russo estabeleceu, enquanto isto, um anel de ferro e fogo ao redor de Moscou.
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O Imperador dos Francezes, sempre hábil em aproveitar-se do primeiro momento de illusaõ, e de terror, para suprender o que elle chama a paz, tinha dirigido todas as suas operaçoens, com o designio de se apoderar de Moscow ; porque naõ estava menos seguro do que seus soldados, que éra nesta capital que ella se devia concluir. Moscow cahio em seu poder. Entretanto houve nisto um pequeno engano, naõ se concluio a paz ; o que naõ deo as suas sabias combinaçoens um torneio mui favorável. Um leve incidente que aconteceo alguns dias antes, e que naõ quadrava demaziado com a justeza de suas medidas, foi a batalha de Borodino. Nesta memorável jornada, os Russos fizeram taõ bom acolhimento aos bandos veteranos de Napoleaõ (segundo a expressão valida dos bulletins), que os desabuzáram um pouco de sua confiança no custume de tiiumphar, e os enviaram a mais de duas milhas (15 wersts) do campo de batalha, a dar os parabéns a seu Imperador de sua victoria. O que naõ puderam executar os veteranos bandos victoriosos, foi igualmente impossível aos bulletins Francezes, ainda que nada resiste á sua intrepidez ; porem a sua linguagem naõ éra preparada senaõ para os que naõ tinham assistido á batalha: os Francezes se avançaram com desconfiança. A boa ordem desta retirada indicava assaz, que ella se deduzia mais da necessidade de algum acontecimento adverso, do que de algum plano sabiamente combinado, A solitude das cidades e aldeas, situadas na estrada principal, naõ se conformava demaziado bem com este acolhimento de braços abertos d aparte dos habitantes, tal qual Napoleaõ tinha prometido a seus veteranos bandos : a invasão de Moscow, sem descarregar golpe, pareceo ao principio ser uma prova da justeza das vistas do grande homem; mas esta cidade tinha ja deixado de ser a capital do Império; porque, á excepçaõ de um pequeno numero, os seus habitantes tinham sahido de seus muros. NaÕ tomou o inimigo posse de outra cousa mais do que de um montão de casas sem habitantes, que vieram a ser bem depressa, por um sacrifício voluntário, um montaõ de cinzas, e de ruínas : para ser a prova de que esta luta éra um combate mortal, e atestar ao mesmo tempo a immovel constância do Soberano, e da NaçaÕ.

Fig. 05 – Uniforme da infantaria francesa na época do Império Napoleônico. As cores e os desenhos dos uniformes para cada nacionalidade e hierarquia militar eram produzidos industrialmente tanto no tecido como na confecção padronizada. As armas e as suas munições também era produzidas nas primitivas linhas de montagem. Até o presente não há estatísticas dos investimentos e dos lucros que esta indústria bélica propiciou para quem investiu nesta primitiva indústria de guerra. O certo é que tudo era destinado para a obsolescência e depois do seu uso.
No entanto, o exercito Russiano, sob o commando do Marechal de Campo, Principe Koutusoff, tinha, por uma marcha denodada em flanco, tomado uma posição vantajosa em Letaschowka, entre Kalouga e Moscow; esta manobra tinha por fim, cubrir as provincias meridionaes, em quanto o exercito se augmentava pelos reforços que concorriam de toda parte, ella acossava e enfraquecia o inimigo por combates diários. As forças Russianas eram numerosas, e animadas pelo melhor espirito: em todas as partes do Império desenvolvia o patriotismo novas forças; em quanto os builetins, preenchian a sua tarefa ordinária, espalhando por toda a parte que a Russia tocava no seu ultimo momento, que os seus exércitos estavam destruídos,que naõ consistiam senaõ em novas levas de milicias tiradas por força, em uma palavra, que o terror, e a confusão se tinham a possado de seus espíritos.

De sua parte, Napoleaõ fez circular proclamaçoens aos habitantes de Moscow e suas vizinhanças, pelas quaes ele os convidava amigavelmente a tornar a recolher-se a seus lares, e vir ali gozar da protecçaõ da grande naçaõ; naõ pode conceber-se assaz até que ponto estes seductores convites fôram absolutamente sem effeito; porque as guerras precedentes tinham demonstrado quanto as propriedades de toda a espécie eram sagradas para com os Francezes; e até que ponto elles respeitavam os templos e os altares ; he verdade que o seu comportamento a este respeito procedia mais, ouvindo-se o que elles dizem, de uma certa leviandade, do que de maldade refleetida.

Desenho de Horácio Vernet    - http://www.museumsyndicate.com/artist.php?artist=381

Fig. 06 – Quatro legiões Portuguesas de granadeiros somavam-se ao serviço de Napoleão ao MEIO MILHÂO de SOLDADOS que invadiram a Rússia em 1812 A população e as lideranças portuguesas estavam divididas entre o apoio à Inglaterra ou a França. A facção favorável aos ideais da Revolução Francesa levanta um pouco o véu sobre as motivações e os apoios  das três invasões de Portugal pelo exército francês. Evidente que depois da queda estes apoios foram considerados como traições e não constam nas histórias nacionais como aconteceu também nos demais países e regiões que apoiaram a Revolução e depois o império francês

Depois de algumas tentativas infructiferas que se fizeram para obter a paz, Napoleaõ suppoz que os Russos naÕ queriam tractar senaõ em Moscow; teve a generosidade de offerecer evacuar esta cidade, reduzida a cinzas, debaixo da condição de um armistício, o de se retirar até Viazma, que seria o seu lugar designado, para as conferências que lhe diziam respeito. Esta proposição naó foi feliz ; porque teve em resposta, que naõ éra de admirar ou ouvir fallar de paz e de armistício, ao mesmo momento em que a campanha se abria para os Russianos. A posicaõ do exercito Francez éra assas critica; investido em uma vasta circumferencia, se findavam os caminhos de Twer, Wadimir, Riazan, c Kalouga, e ao redor das cinzas da capital, que veio a ser o centro de todos os incêndios, se achava como colocado em um vasto deserto. Todos os dias sabiam os soldados a milhares, de seu campo, para vir roubar a cidade. Grande numero se espalhava nos arredores, para obter paõ e forragem: tropas grandes de paizanos armados, he ocultavam em embuscadas, e matavam todos os dias uma multidão de saqueadores; e se elles lhes escapavam, era para cahir nas maõs dos Cossacos. A situação de Napoleaõ se fazia cada dia mais assustadora, as murmuraçoens dos soldados mais sediciosos, e as esperança-s da paz se desvaneciam igualmente mais e mais.
Depois de uma demora de cinco semanas o conquistador tomou o partido de evacuar esta capital : teve o cuidado de dizer diante de seus soldados; Eu vos quero conduzir a vossos quartéis d' inverno. Se encontrar os Russianos no meu caminho, eu os derrotarei; senaÕ tanto melhor para elles. Mas esta linguagem prophetica ja era fora de tempo; porque as conseqüências provaram, que elle encontrou os Russianos, e que os naõ derrotou; e que foi mais vantajozo para elles o tello encontrado. Aos 6 d'Outubro (e. a.) ao amanhecer, o rey de Napoles foi atacado em Tarutina, 80 versts distante de Moscow, e foi derrotado inteiramente: ficaram nas mãos do vencedor 26 peças, 2.000 prisioneiros, e imrnensa quantidade de bagagem : o mesmo monarcha naõ escapou senaõ com muito traballo
 

Fig. 07 – Granadeiro da Legião Portuguesa ao serviço de Napoleão. Os soldados da Legião vestiam de castanho escuro. As pantalonas eram da mesma cor no inverno e de cor branca no Verão e tinham aplicações e lista vermelha. A gola, o plastrão, as dragonas e os canhões das mangas eram vermelhos. Os vivos eram de cor branca. As botas eram pretas e as polainas, de cor branca,  colocadas por baixo das pantalonas no verão ou por cima no inverno. A Legião adoptou a barretina Portuguesa modelo 1806 de feltro preto com um penacho vermelho (granadeiros) do lado esquerdo. Na parte da frente usavam uma granada em latão. O equipamento era uma cartucheira em couro preto a tiracolo a bandoleira de couro branco, uma baioneta de secção triangular e um sabre ‘Bricquet’. O mosquete era o Charleville francês 1803.
Napoleaõ dirigio a sua marcha pela estrada velha de Kalouga. Pode-se julgar por suas disposiçoens, que ele naô tinha de todo a intenção séria de penetrar por esta cidade; mas que pensou desde o principio, abrir caminho pelo Dnieper, aonde estavam preparados os seus armazéns, e que naõ marcharia para Kalouga, senaõ para espantar, e illudir os Russianos com movimentos simulados. Ganhava tempo assim em adiantar-se, e tinha a vantagem de seguir parallelamente a grande estrada de Smolensko, que ainda naÕ estava estragada. Entre tanto, em vez dc enganar com esta manobra o principe Kutusoff, pelo contrario foi surprendido pelo exercito Russiano em Maloiaroslawilz, aonde o marechal de campo, que tinha deixado a sua posição, chegou aos I l d’Outubro (est. ant.J á boca da noite. O combate se fez vivo aos J2, somente entre o 6º. corpo do exercito Russiano, e o 4º. do exercito Francez, o resto dos dous exércitos naõ tendo em nenhuma forma sido empregados; esta jornada, gloriosa ás armas Russianas, poz immediatamente fim ás fintas e estratagemas de Napoleaõ,  e cortou todos os seus planos; cm vez de enganar os Russianos, fôram estes que o enganaram; em vez de os desviar do caminho, leve elle dc desenvolver os seus movimentos em uma vizinhança incommodissima, em vez de esperar tranqutllamente os seus quartéis d' inverno, naõ tinha um momento a perder, para se poder segurar de uma prompta retirada; cm fim, em vez de escolher o seu caminho á sua vontade, elle se vio obrigado a seguir a estrada grande, isto he o deserto que elle mesmo tinha preparado.
O exercito Francez, pois, executou a retirada para Mojaisk, aos 14 d'Outubro (e. a.) por Borowsk e Vereia. Vinte regimentos de Cossacos, commandados pelo General Platoff, a vanguarda composta de dous corpos de exercito de infanteria, debaixo das ordens do General Maloiaroslawitz, se puzéram logo em seu seguimento. Quando o grande exercito Russiano avançou para a esquerda em uma linha paralleia á grande estrada, e na qual os viveres e forragens se achavam em abundância
SOLDADOS BÁVAROS com os UNIFORMES e ARMAS de 1812 -TV Bávara 10.09.2012.
Fig. 08 – SOLDADOS BÁVAROS MOBILIZADOS e UNIFORMIZADAS para INTEGRAR os EXÉRCITOS NAPOLEÔNICOS contra a RÙSSIA. Divergem as cores, porém os equipamentos e armas são semelhantes aquele usado pelos soldados dos demais exércitos

Os armazéns Francezes mais vizinhos astavam em Smolensko; Maloiaroslawitz he mais de 50 milhas (350 wersts) desta cidade : atravessar esta distancia sem nenhumas provisoens de gênero algum, tendo nas costas um inimigo encarniçado em seu seguimento, éra o problema, que o exercito Francez devia resolver: elle era devedor de todas estas difficuldades a seu chefe, que neste caso naõ tinha mais que esperar senaõ prever algum erro grosseiro da parte dos Russianos; e que tinha negligenciado tomar estas precauçoens, estes meios indispensáveis a um verdadeiro capitão, que tracta os seus soldados como pay, e que em fim conduzia o seu exercito á sua perca. Uma retirada prompta para conservar este nome, naõ se podia effectuar senaõ em uma extençaõ alem de medida, toda a precipitação devia entaõ ser funesta: porque he próprio de toda a manobra deste gênero o desacoroçoar mais ou menos o soldado. Quanto maiores saò as distancias e a velocidade, tanto mais tendentes saõ a fazer-lhe perder aquelle espirito, que o constitue. Este mal he mais para temer em um exercito do que todos os soffrimentos phisicos, a que elle está ordinariamente exposto. Napoleaõ obrou no sentido contrario a este principio, e pagou o seu erro com a perca do seu exercito, e de sua reputação militar.

Fig. 09 – Os SOLDADOS RUSSOS diante dos ÍCONES antes da BATALHA de BORODINO. A profunda identidade do povo russo nassuas tradiç~ições nacionais misturados com os índices da transcendência religiosa motivava um exército numericamente inexpressivo diante da massa de inimigos. De outra parte preparava um resistência passiva até que as provisões, o ânimo e o número de inimigos da RÚSSIA conhecendo a índole do seu povo.

Bem depressa se fez a fome sentir no exercito Francez por tal maneira, que os regimentos se dividiram em bandos de saqueadores, que roubavam, e devastavam por todas as partes, na distancia de alguns wersts da estrada grande, os cavallos morriam a milhares, e cada corpo éra obrigado a queimar uma quantidade immensa de bagagens, e de carros que naõ tinham cavallos : todos os habitantes das aldeas do Governo de Moscow e Kalouga tinham pegado em armas para vingar os males que tinham soffrido, e matavam diariamente bandos de saqueadores, cada vez mais e mais apertados pelos Cossacos. O inimigo foi obrigado a seguir a estrada grande, sem se atrever a separar-se desta linha. O grande exercito naÕ tinha quasi outro mantimento senaõ carne de cavallo ; ja cada dia via morrer de fome e fadiga centenas de soldados. Ja se tiravam os cavallos da cavallaria para puchar a artilheria. Ja os canhoens eram abandonados ou encravados, em uma palavra, a miséria éra grande, e naÕ offerecia em sua terriíica progressão senaõ a mais desconsoladora perspectiva.


SHEPELYUK Anatole Paulovich 1906-1972 Michail KUTUZOV na Batalha de Borodino em 1812 pintura 1952

Fig. 10 – O Príncipe Mikhail KUTUZOV (1745-1813) teve diversos confrontos com os exércitos napoleônicos, com aquele desastre da Baralha de Austerlitz. Porém em 1812 conduziu a campanha de desagaste do imenso exército de MEIO MILHÂO de SOLDADOS sob o comando de Napoleão até que este se visse numa situação insustentável e batesse em retirada Na Batalha de Borodino não houve vencedores claros mas representou uma imensa perda de vidas, material e moral para os invasores da RÙSSIA


Aos 22 de Outubro (e. a.) houve em Viazma uma viva acçaÕ com a retaguarda. O Iº. corpo, comandado pelo Marechal Davoust, e uma parte do 4o. foram repulsados para alem de Viazma, e perseguidos até a noite com uma perda de 25 peças, mais de 1.000 homens mortos, feridos ou prisioneiros : a mesma cidade soffria a sorte dos outros, por que os Francezes tinham passado, tudo ficou reduzido a cinzas. Foi entaõ que o rigor dos primeiros frios se fez sentir, e que veio a ser novo augmento de miséria para o exercito Francez. Naõ ter outro alimento senaõ carne de cavallo gelada, nenhuma bebida fortificante, nenhum vestido d'inverno; fazer bivouac sobre a neve e gelo, estas cruéis extremidades eram alem de tudo quanto as forças humanas podem supportar. Cada noite se gelávam e morriam muitos centenares de pessoas. Cada dia morriam outros tantos de fraqueza. Montoens de cadaveres mostravam os rastros da passagem do exercito; os soldados lançavam fora, em bandos, as armas, e a bagagem : ja se naó tractava de ordem ou de disciplina : o soldado ja se naõ inquietava a respeito de seu official, nem este a respeito do soldado; cada um estava por tal maneira occupado de si mesmo, que naõ pensava em cousa alguma nem estava mais capaz de mandar do que de obedecer.

CRUIKDHANK George - 1792-1878 - Napoleão e o Incêndio de Moscou

Fig. 11 – Um circo de horrores esperava Napoleão em Moscou. A cidade esvaziada de sua condição de capital, com os facínoras comuns soltos das prisões e a queima impiedosa de tudo que pudesse representar abrigo, alimento ou lugar de defesa da cidade ofereceu ao aparentemente vitorioso Napoleão Bonaparte um cenário de horrores.

Entre estes bandos desgarrados, formados de todos os regimentos confundidos e mixturados, naõ se distinguiam senaõ os corpos que conduziam as bagagens, e que a cada instante eram assaltados, c saqueados pelos Cossacos, que lhe caíam em cima por todos os lados; a imprudência tinha chegado a tal ponto, que até se naõ pensou, no caso de gelos, de mandar ferrar os cavallos com ferraduras de tempo de neve; cançados, elles naõ podiam manter-se em um caminho escorregadio; éra necessário ajunctar doze ou quinze para puchar uma só peça ; a menor elevação de terra éra um obstáculo invencível. A cavallaria naó podia ministrar mais cavallos : a excepçaõ de alguns regimentos das guardas, estava reduzida a marchar a pé; desta maneira naõ se podia fazer adiantar a artilheria. Em Dorogobush, o 4º. corpo deixou toda a sua, composta de mais de 100 peças ; de maneira que, o Io. e o 3U. depois da sua chegada a Smolensko, tinha ja perdido mais de 400. O exercito que tinha partido de Moscow, com a força de 100.000 homens, quando chegou a Smolensko, apenas tinha 60.000, entre os quaes só a metade estava armada. O inimigo passou dous dias em Smolensko, os quaes foram assignalados pelo roubo, pelo incêndio, e pela mais horrível confusão. Os armazéns que ali se acharam naÕ foram de grande utilidade; porque a porçaõ fixa para cada dia, e que naõ consistia senaÕ em farinha, veio a ser em um instante a preza de tantos esfaimados. E até um grande numero se naõ pôde aproveitar disto ; porque cada qual era obrigado a disputalla aos que a tinham roubado :  tinha-se também annunciado uma distribuição de muniçoens de guerra; mas mui poucos soldados se apresentaram para as receber.

Fig. 12 – Moscou além de ser consumida pelas chamas estava cercada por um anel de ferro e fogo sustentado pelo frágil exército russo. Contudo aos poucos estes efetivos regulares russos começaram a crescer e ser sustentados substancialmente por meio de guerrilhas populares. A fome e o desconforto do exército invasor começaram a impelir investidas irregulares por este terreno onde eram abatidos como assaltantes.

Durante este tempo o exercito Russiano se avançava de Jebna por Smolensko para Crasnoi, para tomar ao inimigo a dianteira ; chegou na noite de 4 de Novembro (e. a) e tomou a sua posição a 7 wersts da cidade aonde chegou no mesmo dia o exercito Francez ; aos 5 atacáram-se. Napoleaõ tinha ja marchado adiante com a maior parte de suas guardas, os únicos que tinham ainda alguma apparencia d'ordem militar: o Iº. c 4º. corpo entraram em combate, e bem depressa foram postos em derrota depois d'alguma resistência, com uma perca considerável, em mortos e feridos caíram nas maõs dos vencedores 25 canhoens, e metade das armas, que ainda havia no exercito, muitos milhares de prisioneiros, grande numero de águias e bandeiras, e o bastaõ do marechal Davoust. O 3º. corpo commandado pelo marechal Ney, com a força de 15.000 homens, e que desde Viazma formava a retaguarda, estava ainda para traz um dia de marcha. Napoleaõ e os seus generaes naõ tinham conhecimento algum do exercito Russiano em Krasnoi; foi isto o que fez crer ao marechal Ney, quando ali chegou aos 5, que o obstáculo, que lhe embaraçava o caminho naõ eram senaõ algumas partidas enviadas a descubrir campo : mas bem depressa teve de admirar-se e achou muito máo, que se lhe intimasse que se rendesse. '"Saberei abrir o meu caminho," disse elle ao parlamentario, que se enviou ; e começou repentinamente o ataque. A acçaõ decidio-se logo, e em menos de uma hora foi disperso o corpo que elle commandava, alguns milhares mortos ou feridos ficaram no campo de batalha; perto de 11.000 homens se renderam por destacamentos, uns depois dos outros; e o mesmo marechal fugio pelo Dnieper, com alguns centos de soldados. Este corpo d’exercito tinha mais de 20 peças, e nem um só cavalleiro. Neste dia se féz um immenso saque. Os despojos, que era Moscow se tinham salvado das chamas, cahiram em grande parte no poder dos Russianos.


 
Fig. 12 – As construções da velha Moscou eram sustentadas por material facilmente inflamável e a ser consumida pelas chamas como madeira. A obra dos incendiários foi facilitado pelo  abundante uso de tecidos nos interiores. O mobiliário,  os  tapetes e o couro, usados para a defesa do intenso frio, virou combustível  para o desespero e desorientação do exercito francês.  Napoleão Bonaparte e o seu estado maior, depois da ocupação de Moscou, no dia 14 de setembro de 1812,  viveram numa armadilha ao longo de um mês infernal para a qual não estavam preparados e desmoralizou todas as promessas do início da campanha. A desonrosa e irreversível retirada de Moscou foi ditada, menos de um mês depois da entrada. As perdas diárias de vidas, de munição e a distância para o reabastecimento tornava impossível a sua sustentação.


A  NARRATIVA CONTINUA nas DUAS PRÓXIMAS POSTAGENS

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS

CORREIO BRAZILENSE Nº 058 – março de 1813  pp 365 - 370




RESENHA POSTAGENS ANTERIORES FAMÍLIA SIMON




Campanha da Rússia





LEGIÕES de PORTUGUESES na Campanha da Rússia



Horácio VERNET


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