A CAMPANHA da RÚSSIA de 1812
*MOSCOU em CINZAS*
ROBEAU F. Batalha de Borodino – fragmento central
Fig.
01 – A campanha de seis meses na Rússia
foi uma sequência de combates em descampados como o de Borodino travado no dia
07 de setembro de 1812. Nestes confrontos iniciais da invasão os franceses
e seus aliados levaram a melhor, pois eram numericamente superiores e armados
com os últimos produtos da indústria bélica da época. Os russos isolados não se
entregaram. Recuaram para as estepes com um exército numérico e logisticamente
inferior. Levaram o seu governo também pra o interior.
Mathias Simon (1788-1866) trouxe
em 1829 para as Américas na sua memória um dos acontecimentos cruciais da
humanidade.
Mathias estava envolto, em março
de 1813, nas consequências de uma das
maiores tragédias que a humanidade pode armar para si mesma. Há duzentos anos a
história da Europa enfrentava as consequências do trágico segundo semestre do
ano anterior. A desastrada invasão da Rússia entre o dia 24 de junho ate 14 de
dezembro de 1812 foi um dos ensaios das
guerras que a era industrial patrocinou, armou e depois reproduziu. A França - liderada
por Napoleão Bonaparte e os seus aliados - estava desmoralizada e o seu império
a beira da implosão definitiva. A aventura
custou milhares de vidas, ruinas de toda ordem e caos incontrolável. Apenas os vendedores de armas, de mantimentos
e de vidas alheias lucraram e concentraram fortunas e um poder soturno e
sinistro sem limites de fronteiras.
Fig.
02 – Os franceses e os seus aliados levaram a melhor enquanto o verão e o
outono propiciava um clima favorável às suas ações bélicas. Mas o “GENERAL INVERNO” chegou cedo para a maioria dos
invasores que ficaram a mercê do frio e do gelo que neste ano começou
relativamente cedo e com uma intensidade muito superior ao que os invasores
haviam se imaginado e previsto.
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A cidade Hermeskeil, terra natal
de Mathias Simon, era território francês desde 1793. Na Campanha da Rússia de 1812 ele estava com
24 anos completos. Participou da marcha para Moscou como soldado da guarda
francesa. Os desastres da Campanha da Rússia comparados à amarga despedida da
sua terra natal à migração posterior para o interior das florestas bravias onde
estava tudo para fazer por pior que tenha sido. Os efeitos morais, psicológicos
e físicos dos desastres da Campanha da Rússia o mantiveram vinculado à terra da
imigração. No velho continente permaneciam a insensibilidade e a mortandade
provocada pela crença na tecnologia, no seu uso para qualquer pretexto e contra
todos os principio de uma civilização. Crença na tecnologia e o poder das armas
que rebrotaram vitoriosos na Europa, em 1870, e depois se reproduziram nas I e
na II Guerras Mundiais.
Fig.
03 – O IMPÉRIO NAPOLEÔNICO e dos seus
ALIADOS que se jogaram contra a RÙSSIA cobria quase todo continente europeu.
Apesar de Portugal não participar oficialmente da invasão os partidários dos franceses
formaram quatro legiões de granadeiros lusitanos ao exército sob o comando de
Napoleão Bonaparte.
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Assistida, ao vivo, por milhões de
olhos provocou narrativas de toda ordem. Por mais diversas que tenha sido cada
um deles todos eles assustam, mas não demovem os vendedores de armas, de
mantimentos e de vidas alheias até os dias atuais.
O próprio Napoleão passou os
seus últimos dias na Ilha santa Helena, reescrevendo, reeditando as suas
memórias.
Aproveita-se uma narrativa
realizada por um oficial alemão a serviço dos russos e que retornou à Berlim no
final de 1812. Esta narrativa consta no número de março de 1813 no Correio
Braziliense, traduzida ao português e editada em Londres ainda em plena guerra
contra Napoleão. Neste ponto é necessário ressaltar o uso da midia impressa
neste esforço de guerra. ´E sabida a máxima nesta circunstância a primeira vítima
sempre é a verdade.. Porém esta narrativa é sempre mais um recurso logístico,
entre os muitos, para comparações entre ideologias, versões, mentalidades e
culturas distintas.
Esta narrativa apareceu
estampada no CORREIO BRAZILENSE, Nº 058 – março de 1813 pp. 357 até 365. Conserva-se a ortografia
original.
Retirada dos Francezes de Moscow;
por um official Alemaõ, no serviço de
Russia; publicada na Lingua Alemaã, e impressa em Berlin, 1813.
O
ultimo golpe porque devia espirar a liberdade da Europa, se tinha annunciado
pelos Francezes com preparativos, e com tal apparato e estrondo, que exaltavam
ao mais alto gráo o orgulho do soldado, e as esperanças do partidista do
systema Francez: certo numero naÕ pensava senaõ em ultrapassar as Ruínas de
Russia, e correr a poz de expediçoens romanescas, nos paizes distantes de
Pérsia e índia. Napoleaõ tinha altamente pronunciado, que o irresislivel
destino de Russia, a precipitava em sua queda. Elle deixava a descuberto os
meios de execução pelo plano que tinha decretado de repellir os Muscovitas para
além dos desertos de Ásia, como outros tantos bárbaros inimigos da civilização
da Europa. A sua fama, a sua fortuna, e exércitos formidáveis, davam a suas
palavras todo a importância, e todo o sério de uma prophecia. Taõ presunçosa
linguagem, naõ éra entretanto própria a impor. Com effeito a parte pensante do
publico naõ se deixava levar a plena confiança, na segurança de suas
combinaçoens politicas e militares, entretanto que o commum dos espíritos
redobrava na crença de sua infallibilidade.Ja as palavras propheticas de
Napoleaõ pareciam cumprir- se: logo que o exercito Francez chegou ao Niemen, os
Russos se retiraram de todas as partes, e abandonaram ao inimigo as provincias
do Norte da Polônia ; estas arvoraram bem depressa o estandarte da rebelião, e
se uniram aos Francezes. Napoleaõ tinha promettido a seus soldados, de os
conduzir a Moscow. Ali, lhes disse elle, será o termo de vossos trabalhos, e de
vossos esforços , ali vos espera uma paz gloriosa e toda a espécie de gozos.
Fig.
04 – Os exércitos de Napoleão Bonaparte
concentraram onde é, em 2013, o território da Lituânia. Deste ponto a marcha
até Moscou era de aproximadamente 350 km. Na invasão esta massa humana
levou de roldão qualquer defesa até atingir Moscou e onde Napoleão havia
prometido o final da campanha e a recompensa aos seus soldados. Porém os russos
evacuaram a cidade e deixaram os criminosos comuns de reduzi-la em cinzas o que
faro realizaram. O exercito russo estabeleceu, enquanto isto, um anel de ferro
e fogo ao redor de Moscou.
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O
Imperador dos Francezes, sempre hábil em aproveitar-se do primeiro momento de
illusaõ, e de terror, para suprender o que elle chama a paz, tinha dirigido
todas as suas operaçoens, com o designio de se apoderar de Moscow ; porque naõ
estava menos seguro do que seus soldados, que éra nesta capital que ella se
devia concluir. Moscow cahio em seu poder. Entretanto houve nisto um pequeno
engano, naõ se concluio a paz ; o que naõ deo as suas sabias combinaçoens um
torneio mui favorável. Um leve incidente que aconteceo alguns dias antes, e que
naõ quadrava demaziado com a justeza de suas medidas, foi a batalha de
Borodino. Nesta memorável jornada, os Russos fizeram taõ bom acolhimento aos bandos
veteranos de Napoleaõ (segundo a expressão valida dos bulletins), que os
desabuzáram um pouco de sua confiança no custume de tiiumphar, e os enviaram a
mais de duas milhas (15 wersts) do campo de batalha, a dar os parabéns a seu
Imperador de sua victoria. O que naõ puderam executar os veteranos bandos victoriosos, foi
igualmente impossível aos bulletins Francezes, ainda que nada resiste á sua
intrepidez ; porem a sua linguagem naõ éra preparada senaõ para os que naõ
tinham assistido á batalha: os Francezes se avançaram com desconfiança. A boa
ordem desta retirada indicava assaz, que ella se deduzia mais da necessidade de
algum acontecimento adverso, do que de algum plano sabiamente combinado, A
solitude das cidades e aldeas, situadas na estrada principal, naõ se conformava
demaziado bem com este acolhimento de braços abertos d aparte dos habitantes,
tal qual Napoleaõ tinha prometido a seus veteranos
bandos : a invasão de Moscow, sem descarregar golpe, pareceo ao
principio ser uma prova da justeza das vistas do grande homem; mas esta cidade
tinha ja deixado de ser a capital do Império; porque, á excepçaõ de um pequeno
numero, os seus habitantes tinham sahido de seus muros. NaÕ tomou o inimigo
posse de outra cousa mais do que de um montão de casas sem habitantes, que
vieram a ser bem depressa, por um sacrifício voluntário, um montaõ de cinzas, e
de ruínas : para ser a prova de que esta luta éra um combate mortal, e atestar
ao mesmo tempo a immovel constância do Soberano, e da NaçaÕ.
Fig.
05 – Uniforme da infantaria francesa na época do Império Napoleônico. As cores e os desenhos dos uniformes para cada
nacionalidade e hierarquia militar eram produzidos industrialmente tanto no
tecido como na confecção padronizada. As armas e as suas munições também era
produzidas nas primitivas linhas de montagem. Até o presente não há
estatísticas dos investimentos e dos lucros que esta indústria bélica propiciou
para quem investiu nesta primitiva indústria de guerra. O certo é que tudo era
destinado para a obsolescência e depois do seu uso.
No
entanto, o exercito Russiano, sob o commando do Marechal de Campo, Principe
Koutusoff, tinha, por uma marcha denodada em flanco, tomado uma posição
vantajosa em Letaschowka, entre Kalouga e Moscow; esta manobra tinha por fim,
cubrir as provincias meridionaes, em quanto o exercito se augmentava pelos
reforços que concorriam de toda parte, ella acossava e enfraquecia o inimigo
por combates diários. As forças Russianas eram numerosas, e animadas pelo
melhor espirito: em todas as partes do Império desenvolvia o patriotismo novas
forças; em quanto os builetins, preenchian a sua tarefa ordinária, espalhando
por toda a parte que a Russia tocava no seu ultimo momento, que os seus
exércitos estavam destruídos,que naõ consistiam senaõ em novas levas de
milicias tiradas por força, em uma palavra, que o terror, e a confusão se
tinham a possado de seus espíritos.
De
sua parte, Napoleaõ fez circular proclamaçoens aos habitantes de Moscow e suas
vizinhanças, pelas quaes ele os convidava amigavelmente a tornar a recolher-se
a seus lares, e vir ali gozar da protecçaõ da grande naçaõ; naõ pode conceber-se assaz até que ponto estes
seductores convites fôram absolutamente sem effeito; porque as guerras precedentes tinham demonstrado
quanto as propriedades de toda a espécie eram sagradas para com os Francezes; e
até que ponto elles respeitavam os templos e os altares ; he verdade que o seu
comportamento a este respeito procedia mais, ouvindo-se o que elles dizem, de
uma certa leviandade, do que de maldade refleetida.
Desenho
de Horácio Vernet - http://www.museumsyndicate.com/artist.php?artist=381
Fig.
06 – Quatro legiões Portuguesas de granadeiros somavam-se ao serviço de Napoleão ao MEIO MILHÂO de
SOLDADOS que invadiram a Rússia em 1812 A
população e as lideranças portuguesas estavam divididas entre o apoio à
Inglaterra ou a França. A facção favorável aos ideais da Revolução Francesa
levanta um pouco o véu sobre as motivações e os apoios das três invasões de Portugal pelo exército
francês. Evidente que depois da queda estes apoios foram considerados como
traições e não constam nas histórias nacionais como aconteceu também nos demais
países e regiões que apoiaram a Revolução e depois o império francês
Depois
de algumas tentativas infructiferas que se fizeram para obter a paz, Napoleaõ
suppoz que os Russos naÕ queriam tractar senaõ em Moscow; teve a generosidade
de offerecer evacuar esta cidade, reduzida a cinzas, debaixo da condição de um
armistício, o de se retirar até Viazma, que seria o seu lugar designado, para
as conferências que lhe diziam respeito. Esta proposição naó foi feliz ; porque
teve em resposta, que naõ éra de admirar ou ouvir fallar de paz e de armistício, ao mesmo momento em que a campanha se abria para os
Russianos. A posicaõ do exercito
Francez éra assas critica; investido em uma vasta circumferencia, se findavam
os caminhos de Twer, Wadimir, Riazan, c Kalouga, e ao redor das cinzas da
capital, que veio a ser o centro de todos os incêndios, se achava como colocado
em um vasto deserto. Todos os dias sabiam os soldados a milhares, de seu campo,
para vir roubar a cidade. Grande numero se espalhava nos arredores, para obter
paõ e forragem: tropas grandes de paizanos armados, he ocultavam em embuscadas,
e matavam todos os dias uma multidão de saqueadores; e se elles lhes escapavam,
era para cahir nas maõs dos Cossacos. A situação de Napoleaõ se fazia cada dia
mais assustadora, as murmuraçoens dos soldados mais sediciosos, e as
esperança-s da paz se desvaneciam igualmente mais e mais.
Depois de uma demora de cinco semanas o conquistador
tomou o partido de evacuar esta capital : teve o cuidado de dizer diante de
seus soldados; Eu vos quero conduzir
a vossos quartéis d' inverno. Se
encontrar os Russianos no meu
caminho, eu os derrotarei; senaÕ tanto melhor para elles. Mas esta linguagem prophetica ja era fora de tempo;
porque as conseqüências provaram, que elle encontrou os Russianos, e que os naõ
derrotou; e que foi mais vantajozo para elles o tello encontrado. Aos 6
d'Outubro (e. a.) ao amanhecer, o rey de Napoles foi atacado em Tarutina, 80
versts distante de Moscow, e foi derrotado inteiramente: ficaram nas mãos do
vencedor 26 peças, 2.000
prisioneiros, e imrnensa quantidade de bagagem : o mesmo monarcha naõ escapou
senaõ com muito traballo
Fig.
07 – Granadeiro da Legião Portuguesa ao serviço de Napoleão. Os
soldados da Legião vestiam de castanho escuro. As pantalonas eram da mesma cor
no inverno e de cor branca no Verão e tinham aplicações e lista vermelha. A
gola, o plastrão, as dragonas e os canhões das mangas eram vermelhos. Os vivos
eram de cor branca. As botas eram pretas e as polainas, de cor branca, colocadas por baixo das pantalonas no verão ou
por cima no inverno. A Legião adoptou a barretina Portuguesa modelo 1806 de
feltro preto com um penacho vermelho (granadeiros) do lado esquerdo. Na parte
da frente usavam uma granada em latão. O
equipamento era uma cartucheira em couro preto a tiracolo a bandoleira de couro
branco, uma baioneta de secção triangular e um sabre ‘Bricquet’. O mosquete era
o Charleville francês 1803.
Napoleaõ
dirigio a sua marcha pela estrada velha de Kalouga. Pode-se julgar por suas
disposiçoens, que ele naô tinha de todo a intenção séria de penetrar por esta
cidade; mas que pensou desde o principio, abrir caminho pelo Dnieper, aonde
estavam preparados os seus armazéns, e que naõ marcharia para Kalouga, senaõ
para espantar, e illudir os Russianos com movimentos simulados. Ganhava tempo
assim em adiantar-se, e tinha a vantagem de seguir parallelamente a grande
estrada de Smolensko, que ainda naÕ estava estragada. Entre tanto, em vez dc
enganar com esta manobra o principe Kutusoff, pelo contrario foi surprendido
pelo exercito Russiano em Maloiaroslawilz, aonde o marechal de campo, que tinha
deixado a sua posição, chegou aos I l d’Outubro (est. ant.J á boca da noite. O
combate se fez vivo aos J2, somente entre o 6º. corpo do exercito Russiano, e o
4º. do exercito Francez, o resto dos dous exércitos naõ tendo em nenhuma forma
sido empregados; esta jornada, gloriosa ás armas Russianas, poz immediatamente
fim ás fintas e estratagemas de Napoleaõ,
e cortou todos os seus planos; cm vez de enganar os Russianos, fôram
estes que o enganaram; em vez de os desviar do caminho, leve elle dc
desenvolver os seus movimentos em uma vizinhança incommodissima, em vez de
esperar tranqutllamente os seus quartéis d' inverno, naõ tinha um momento a
perder, para se poder segurar de uma prompta retirada; cm fim, em vez de
escolher o seu caminho á sua vontade, elle se vio obrigado a seguir a estrada
grande, isto he o deserto que elle mesmo tinha preparado.
O exercito Francez, pois, executou a retirada para
Mojaisk, aos 14 d'Outubro (e. a.) por Borowsk e Vereia. Vinte regimentos de
Cossacos, commandados pelo General Platoff, a vanguarda composta de dous corpos
de exercito de infanteria, debaixo das ordens do General Maloiaroslawitz, se
puzéram logo em seu seguimento. Quando o grande exercito Russiano avançou para
a esquerda em uma linha paralleia á grande estrada, e na qual os viveres e
forragens se achavam em abundância
SOLDADOS BÁVAROS
com os UNIFORMES e ARMAS de 1812 -TV Bávara 10.09.2012.
Fig.
08 – SOLDADOS BÁVAROS MOBILIZADOS e
UNIFORMIZADAS para INTEGRAR os EXÉRCITOS NAPOLEÔNICOS contra a RÙSSIA.
Divergem as cores, porém os equipamentos e armas são semelhantes aquele usado
pelos soldados dos demais exércitos
Os
armazéns Francezes mais vizinhos astavam em Smolensko; Maloiaroslawitz he mais
de 50 milhas (350 wersts) desta cidade : atravessar esta distancia sem nenhumas
provisoens de gênero algum, tendo nas costas um inimigo encarniçado em seu
seguimento, éra o problema, que o exercito Francez devia resolver: elle era
devedor de todas estas difficuldades a seu chefe, que neste caso naõ tinha mais
que esperar senaõ prever algum erro grosseiro da parte dos Russianos; e que
tinha negligenciado tomar estas precauçoens, estes meios indispensáveis a um
verdadeiro capitão, que tracta os seus soldados como pay, e que em fim conduzia
o seu exercito á sua perca. Uma retirada prompta para conservar este nome, naõ
se podia effectuar senaõ em uma extençaõ alem de medida, toda a precipitação
devia entaõ ser funesta: porque he próprio de toda a manobra deste gênero o
desacoroçoar mais ou menos o soldado. Quanto maiores saò as distancias e a
velocidade, tanto mais tendentes saõ a fazer-lhe perder aquelle espirito, que o
constitue. Este mal he mais para temer em um exercito do que todos os
soffrimentos phisicos, a que elle está ordinariamente exposto. Napoleaõ obrou
no sentido contrario a este principio, e pagou o seu erro com a perca do seu
exercito, e de sua reputação militar.
Fig.
09 – Os SOLDADOS RUSSOS diante dos
ÍCONES antes da BATALHA de BORODINO. A profunda identidade do povo russo
nassuas tradiç~ições nacionais misturados com os índices da transcendência
religiosa motivava um exército numericamente inexpressivo diante da massa de
inimigos. De outra parte preparava um resistência passiva até que as provisões,
o ânimo e o número de inimigos da RÚSSIA conhecendo a índole do seu povo.
Bem
depressa se fez a fome sentir no exercito Francez por tal maneira, que os
regimentos se dividiram em bandos de saqueadores, que roubavam, e devastavam
por todas as partes, na distancia de alguns wersts da estrada grande, os
cavallos morriam a milhares, e cada corpo éra obrigado a queimar uma quantidade
immensa de bagagens, e de carros que naõ tinham cavallos : todos os habitantes
das aldeas do Governo de Moscow e Kalouga tinham pegado em armas para vingar os
males que tinham soffrido, e matavam diariamente bandos de saqueadores, cada
vez mais e mais apertados pelos Cossacos. O inimigo foi obrigado a seguir a
estrada grande, sem se atrever a separar-se desta linha. O grande exercito naÕ
tinha quasi outro mantimento senaõ carne de cavallo ; ja cada dia via morrer de
fome e fadiga centenas de soldados. Ja se tiravam os cavallos da cavallaria
para puchar a artilheria. Ja os canhoens eram abandonados ou encravados, em uma
palavra, a miséria éra grande, e naÕ offerecia em sua terriíica progressão
senaõ a mais desconsoladora perspectiva.
SHEPELYUK
Anatole Paulovich 1906-1972 Michail KUTUZOV na Batalha de Borodino em 1812
pintura 1952
Fig.
10 – O Príncipe Mikhail KUTUZOV
(1745-1813) teve diversos confrontos com os exércitos napoleônicos, com aquele
desastre da Baralha de Austerlitz. Porém em 1812 conduziu a campanha de
desagaste do imenso exército de MEIO MILHÂO de SOLDADOS sob o comando de
Napoleão até que este se visse numa situação insustentável e batesse em
retirada Na Batalha de Borodino não houve vencedores claros mas representou uma
imensa perda de vidas, material e moral para os invasores da RÙSSIA
Aos
22 de Outubro (e. a.) houve em Viazma uma viva acçaÕ com a retaguarda. O Iº.
corpo, comandado pelo Marechal Davoust, e uma parte do 4o. foram repulsados
para alem de Viazma, e perseguidos até a noite com uma perda de 25 peças, mais
de 1.000 homens mortos, feridos ou prisioneiros : a mesma cidade soffria a
sorte dos outros, por que os Francezes tinham passado, tudo ficou reduzido a
cinzas. Foi entaõ que o rigor dos primeiros frios se fez sentir, e que veio a
ser novo augmento de miséria para o exercito Francez. Naõ ter outro alimento
senaõ carne de cavallo gelada, nenhuma bebida fortificante, nenhum vestido
d'inverno; fazer bivouac sobre
a neve e gelo, estas cruéis extremidades eram alem de tudo quanto as forças
humanas podem supportar. Cada noite se gelávam e morriam muitos centenares de
pessoas. Cada dia morriam outros tantos de fraqueza. Montoens de cadaveres mostravam os rastros da
passagem do exercito; os soldados lançavam fora, em bandos, as armas, e a
bagagem : ja se naó tractava de ordem ou de disciplina : o soldado ja se naõ
inquietava a respeito de seu official, nem este a respeito do soldado; cada um
estava por tal maneira occupado de si mesmo, que naõ pensava em cousa alguma
nem estava mais capaz de mandar do que de obedecer.
CRUIKDHANK George - 1792-1878 - Napoleão
e o Incêndio de Moscou
Fig.
11 – Um circo de horrores esperava
Napoleão em Moscou. A cidade esvaziada de sua condição de capital, com os facínoras
comuns soltos das prisões e a queima impiedosa de tudo que pudesse representar
abrigo, alimento ou lugar de defesa da cidade ofereceu ao aparentemente
vitorioso Napoleão Bonaparte um cenário de horrores.
Entre
estes bandos desgarrados, formados de todos os regimentos confundidos e
mixturados, naõ se distinguiam senaõ os corpos que conduziam as bagagens, e que
a cada instante eram assaltados, c saqueados pelos Cossacos, que lhe caíam em
cima por todos os lados; a imprudência tinha chegado a tal ponto, que até se
naõ pensou, no caso de gelos, de mandar ferrar os cavallos com ferraduras de
tempo de neve; cançados, elles naõ podiam manter-se em um caminho escorregadio;
éra necessário ajunctar doze ou quinze para puchar uma só peça ; a menor
elevação de terra éra um obstáculo invencível. A cavallaria naó podia ministrar
mais cavallos : a excepçaõ de alguns regimentos das guardas, estava reduzida a
marchar a pé; desta maneira naõ se podia fazer adiantar a artilheria. Em
Dorogobush, o 4º. corpo deixou toda a sua, composta de mais de 100 peças ; de
maneira que, o Io. e o 3U. depois da sua chegada a Smolensko, tinha ja perdido
mais de 400. O exercito que tinha partido de Moscow, com a força de 100.000
homens, quando chegou a Smolensko, apenas tinha 60.000, entre os quaes só a
metade estava armada. O inimigo passou dous dias em Smolensko, os quaes foram
assignalados pelo roubo, pelo incêndio, e pela mais horrível confusão. Os
armazéns que ali se acharam naÕ foram de grande utilidade; porque a porçaõ fixa
para cada dia, e que naõ consistia senaÕ em farinha, veio a ser em um instante
a preza de tantos esfaimados. E até um grande numero se naõ pôde aproveitar
disto ; porque cada qual era obrigado a disputalla aos que a tinham roubado : tinha-se também annunciado uma distribuição
de muniçoens de guerra; mas mui poucos soldados se apresentaram para as
receber.
Fig.
12 – Moscou além de ser consumida pelas
chamas estava cercada por um anel de ferro e fogo sustentado pelo frágil
exército russo. Contudo aos poucos estes efetivos regulares russos
começaram a crescer e ser sustentados substancialmente por meio de guerrilhas
populares. A fome e o desconforto do exército invasor começaram a impelir
investidas irregulares por este terreno onde eram abatidos como assaltantes.
Durante
este tempo o exercito Russiano se avançava de Jebna por Smolensko para Crasnoi,
para tomar ao inimigo a dianteira ; chegou na noite de 4 de Novembro (e. a) e
tomou a sua posição a 7 wersts da cidade aonde chegou no mesmo dia o exercito
Francez ; aos 5 atacáram-se. Napoleaõ tinha ja marchado adiante com a maior
parte de suas guardas, os únicos que tinham ainda alguma apparencia d'ordem
militar: o Iº. c 4º. corpo entraram em combate, e bem depressa foram postos em
derrota depois d'alguma resistência, com uma perca considerável, em mortos e
feridos caíram nas maõs dos vencedores 25 canhoens, e metade das armas, que
ainda havia no exercito, muitos milhares de prisioneiros, grande numero de
águias e bandeiras, e o bastaõ do marechal
Davoust. O 3º. corpo commandado pelo marechal Ney, com a força de 15.000 homens, e que desde Viazma formava a
retaguarda, estava ainda para traz um dia de marcha. Napoleaõ e os seus
generaes naõ tinham conhecimento algum do exercito Russiano em Krasnoi; foi
isto o que fez crer ao marechal Ney, quando
ali chegou aos 5, que o obstáculo, que lhe embaraçava o caminho naõ eram senaõ
algumas partidas enviadas a descubrir campo : mas bem depressa teve de
admirar-se e achou muito máo, que se lhe intimasse que se rendesse.
'"Saberei abrir o meu caminho," disse elle ao parlamentario, que se
enviou ; e começou repentinamente o ataque. A acçaõ decidio-se logo, e em menos
de uma hora foi disperso o corpo que elle commandava, alguns milhares mortos ou
feridos ficaram no campo de batalha; perto de 11.000 homens se renderam por
destacamentos, uns depois dos outros; e o mesmo marechal fugio pelo Dnieper,
com alguns centos de soldados. Este corpo d’exercito tinha mais de 20 peças, e
nem um só cavalleiro. Neste dia se féz um immenso saque. Os despojos, que era
Moscow se tinham salvado das chamas, cahiram em grande parte no poder dos
Russianos.
Fig.
12 – As construções da velha Moscou eram
sustentadas por material facilmente inflamável e a ser consumida pelas chamas
como madeira. A obra dos incendiários foi facilitado pelo abundante uso de tecidos nos interiores. O
mobiliário, os tapetes e o couro, usados para a defesa do
intenso frio, virou combustível para o desespero
e desorientação do exercito francês. Napoleão
Bonaparte e o seu estado maior, depois da ocupação de Moscou, no dia 14 de
setembro de 1812, viveram numa armadilha
ao longo de um mês infernal para a qual não estavam preparados e desmoralizou todas
as promessas do início da campanha. A desonrosa e irreversível retirada de
Moscou foi ditada, menos de um mês depois da entrada. As perdas diárias de
vidas, de munição e a distância para o reabastecimento tornava impossível a sua
sustentação.
A NARRATIVA CONTINUA nas DUAS
PRÓXIMAS POSTAGENS
FONTES NUMÉRICAS
DIGITAIS
CORREIO BRAZILENSE Nº 058 – março de
1813 pp 365 - 370
RESENHA POSTAGENS
ANTERIORES FAMÍLIA SIMON
Campanha da Rússia
LEGIÕES de PORTUGUESES na Campanha
da Rússia
Horácio VERNET
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