O MOLEIRO SIMON na
CULTURA EUROPÉIA e AMERICANA.
É possível especular, criar narrativas e retomar ao projeto de Mathias SIMON (1788-1866) nas Américas, tomando partido daquilo que sobrou dos vestígios da sua casa da Capela Rosário no município de São José Hortêncio-RS.
Foto de Círio SIMON
Fig. 01 – A Casa de Mathias Simon na Capela Rosário numa visita dos seus descendentes em novembro de 2008.
Sem conhecer detalhes, ou documentos, é possível afirmar que Mathias tinha um ano de idade quando eclodiu a Revolução Francesa que marcou a passagem de era Moderna para a Contemporânea. Na França marcou o fim do Antigo Regime. Certamente para a pequena e tranqüila Hermeskeil, situada na fronteira com a França, significou muitas dúvidas, apreensões e que começaram a se concretizar quando Napoleão Bonaparte começou a galgar o poder. Para Mathias, na sua juventude, representou o serviço militar deste soberano francês, longas marchas, as batalhas, vitórias, interrompidas em Waterloo com derrota do Imperador no dia 18 de junho de 1815[1].
Detalhe de foto da Cãs Comerciial José Simon c. 1900
Fig. 02 – CASA COMERCIAL e SALÃO de FESTAS de
JOSÉ SIMON descendente de MATHIAS SIMON.
JOSÉ SIMON descendente de MATHIAS SIMON.
O retorno dos Bourbons ao poder político na França, apoiados pela nobreza decaída, somado aos efeitos dos tratados do Congresso de Viena[1], significaram para Mathias a sua reentrada em Hermeskeil. Ali retomou as atividades profissionais de moleiro, que se acredita herdado de alguém da família e as atividades da constituição da sua família com Margarida.
Não possuirmos noção do que significou politicamente, para Mathias, o fato de haver servido no exército francês diante das tradicionais e continuidades hostilidades entre os prussianos e franceses.
Além disto é possível acrescentar, neste contexto político, as mudanças econômicas e técnicas na rotineira vida agrícola atingida pela concentração de capitais, de mão de obra nas cidades e dos meios de produção a serviço da era industrial. Para Mathias, ainda na rotina da era agrícola, no contraditório com esta era industrial, a sua atividade de moleiro não significava uma tarefa única e rotineira, pois era harmônica com um número elevado de outras funções e de atividades produtivas.
[1] -Veja Congresso de Viena (02.05.1814 até 06.06.1815)[1], http://pt.wikipedia.org/wiki/Congresso_de_Viena
Foto de Círio SIMON
Fig. 03 – Regato que corre ao fundo da Casa de Mathias SIMON e que movimentava o seu moinho.
Não possuímos cartas ou textos escritos por Mathias SIMON e nem uma biografia autorizada. Contudo há possibilidade de perceber o drama de Hathias ao ler a obra “O moleiro de Saint-SOUCI” do advogado, poeta e dramaturgo François Guillaume Jean Stanislas Andrieux (1759-1833)[1] que narra em 1797, o confronto, em 1745, do moleiro de Saint-Souci com Frederico o Grande e famosa frase “ainda há juizes em Berlim”[2]
Até a era industrial, o moinho era um dos lugares mais propícios à socialização. o moinho - e as fontes de água - era lugar de intensa socialização concorrendo com os mercados públicos e os prédios oficiais e religiosos. No moinho ocorriam os encontros entre rapazes e moças. Era lugar e oportunidade para bailes, música e trocas simbólicas e materiais. Um exemplo desta ampliação está no famoso quadro de Renoir “Bal du Moulin de la Galette”[3]
Como é possível verificar nos vestígios que nos deixou Mathias Simon, em capela Rosário este moinho evoluía para espaço do comércio e do salão de festas e bailes.
O status social do moleiro, de outra parte fazia com que ele estivesse entre a servidão geral e a nobreza. Na contemporaneidade, na chamada micro-história, o italiano Carlo Ginzburg retoma a narrativa do moleiro, sua condição social e suas idéias no processo da Inquisição detalhado. Na obra O queijo e os vermes - O cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela Inquisição, onde ele narra o cotidiano, a vida e o julgamento do moleiro italiano "Domenico Scandella, conhecido por Menocchio"[4]
[2] “O moleiro de Saint-SOUCI” em http://www.loiseaulire.com/Anciens/Andrieux.html
[4] GINZBURG, Carlo 1939 – O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo : Companhia das Letras, 2006, 255 p ISBN 9788535908-107
Foto de Círio SIMON
Fig. 04 – O que restou da canalização do regato que movimentava o moinho localizado no fundo da Casa de Mathias Simon.
Tudo isto deve ter pesado para ele recomeçar, do outro lado do Atlântico, a sua vida e da sua família. Mathias tornou o seu projeto de abandonar o velho Mundo irreversível, um ano antes dos acontecimentos revolucionários, em 1830, que sacudiram de novo a França.
A nossa sociedade, interessada em recursos naturais e não agressivos, com mais tempo para ócio e para o turismo, está buscando estas fontes e seu sentido para a atualidade e para o futuro da humanidade. No Rio Grande do Sul já se fizeram notáveis esforços para balizar o “Caminho dos Moinhos”, do qual infelizmente o moinho de Mathais, além de já demolido, não faz parte.
Imagem do Jornal dos SIMON nº 37 Porto Alegre, set 2010, p. 06
Fig. 05 – As duas mós do Moinho de Mathias SIMON preservadas por Fabrício SIMON MARTINS em Novo Hamburgo – RS..
A frase : “ainda há juizes em Berlim” ainda soa forte e é frequentemente aplicada. A frase faz sentido quando traduz a defesa dos resultados do trabalho perseverante do moleiro que busca conservar o direito aos seus bens materiais e imateriais conquistados com este trablho honesto de gerações. Os “juízes da História” fazem justiça ao moleiro Mathias Simon (*1.788+1.866) por meio da voz e pelas ações justas e fraternas dos seus descendentes
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