Espaço numérico digital destinado à circulação de informações culturais e de idéias provenientes de pessoas e dos afins dos descendentes físicos ou do pensamento de Mathias Simon (*05.05.1788 –+16.04.1866) e que ele materializou, em 1829, na migração com a sua família para a América.

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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Em DIA com a CULTURA dos SIMON – 06

Os TRABALHOS de MATHIAS SIMON na NOVA TERRA.

Círio SIMON
Fig. 01 –  Começam os trabalhos na terra nova
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A confiança no seu trabalho certamente moveu Mathias Simon a aceitar o desafio de se embrenhar na floresta do Sul do Brasil. É necessária uma visão ampla e atualizada, para nosso tempo, para ter uma noção clara, entender e avaliar as circunstâncias da natureza deste trabalho e tecnologia da qual ele era portador.
Mathias foi um reforço de uma nova mentalidade que tratava de transformar a fisionomia do Rio Grande do Sul, do Brasil e por extensão de toda a América Latina cujos países estavam proclamando a sua independência do jugo colonial.  Percebe-se melhor a contribuição de Mathias para esta região após quase dois séculos de ele empreender a travessia do oceano, para iniciar este novo ciclo na América. Para o Rio Grande do Sul era novo o ciclo cultural que implicava a introdução do tipo da policultura agrícola de subsistência autônoma. Desde  o desembarque dos açorianos, em 1752,  iniciava-se o cultivo mais intensivo da terra na busca dos frutos que ela podia produzir por meio deste trabalho e tecnologias adequadas
 Esta região já havia experimentado o trabalho do coletador do caçador, do pecuarista. O coletador, nas suas concepção e prática estritas,  não tem condições de se  sustentar no Rio Grande do Sul, na medida em que aumentava a sua população. Os dispersos araçás, butiás,  guabirobas,  guabijús, pitangas silvestres e alguns moluscos das praias eram um alimento pontual para o coletador. Mesmo que a base da sua sobrevivência fosse de numero reduzido de indivíduos, este ciclo impunha-lhes uma mobilidade permanente, sem garantia de alimento no dia seguinte e sujeito aos rigores e ritmos implacáveis da Natureza. 
Círio SIMON 2010
Fig. 02 – Os alimentos nativos da terra e das águas

Já o caçador e o pescador encontravam o sustento, de uma prole mais numerosa, nos campos e nas águas dos rios, lagos e mar.
Quando da migração de Mathias Simon criação pecuária estava chegando ao seu ciclo áureo e quase hegemônico. Contudo ele migrava para constituir-se num agente da exploração mais racional da agricultura e portador das sementes do avanço da indústria de transformação.
Fig. 03 –  O trabalho de  Mathias Simon na diacronia e sincronia dos estágios tecnológicos e culturais do Rio Grande do Sul.
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Para uma população mais numerosa haveria necessidade de um cultivo da terra mais intenso. Já o aipim e milho permitiam a sedentarização temporária desde os tempos imemoriais, contanto que fossem cultivados por uma agricultura mais racional e coerente com o meio.
Em relação às terras do Brasil o escriba oficial Pero Vaz Caminha anotava para o Rei de Portugal que “em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo[1]. O agricultor açoriano, depois o germânico seguido pelo italiano lançaram as bases do ciclo de uma agricultura inicialmente intuitiva, mas na busca de tecnologias cada vez mais aprimoradas
Quando Mathias desembarcou no Brasil, o Alvará da Dona Maria I, contra a industrialização[2] ainda fazia os seus efeitos. Efeitos mais na ordem mental e da inércia. Como esta inércia cultural e subliminar se alimentava dos efeitos perversos do já secular  Tratado de Mithuen[3] com os britânicos. A Inglaterra aproveitou este Tratado e se industrializara  graças  ao ouro do Brasil. Portugal apostara nos seus produtos agrícolas cultivados de forma medieval enquanto a Inglaterra inundando o mundo com avalanche dos seus produtos industriais. Depois da Independência o escravo atrapalhava no Brasil a exportação inglesa de máquinas. O remédio poderia vir com o imigrante europeu que possuía mentalidade diferente dos nativos
Acervo Pinacoteca Aldo Locatelli – Prefeitura Municipal de Porto Alegre - Foto de Fernando Zago
Fig. 04 –  Carreteiros gaúchos chimarreando – Pedro Weingärtner - 1911
Pintura á óleo 101 x 200 cm  -

Na sua luta de vida ou morte com o meio a cultural hostil ao se trabalho o heróico imigrante pouco percebia desta realidade ao se defrontar com as asperezas desta terra.
No novo cenário tudo se misturava e convivia num aparente equilíbrio homeostático entre as mais diversas forças culturas, ciclos e estágios técnicos. Num mesmo dia podiam desfilar pela nova terra as criaturas humanas presas ao mundo distante mundo da mentalidade de coletador, ser espreitado pelos sentidos aguçados do caçador ou servir de pouso para tropeiros de gado e de mulas cujo destino final era São Paulo.
Acervo do Museu de Arte do Rio Grande do Sul    http://en.wikipedia.org/wiki/Pedro_Weing%C3%A4rtner
Fig. 05 –  Tempora mutantur - Pedro Weingärtner - 1898
Pintura á óleo 110,3 x 144 cm

Se  o mundo, ao qual Mathias e sua família estavam chegando, em 1829, para  iniciar este novo ciclo, o mundo que ele deixou para traz, em 1828, estava encerrando a hegemonia do ciclo agrícola. O mundo europeu estava migrando para a era industrial - após a intervenção romana e a sua sustentação ao longo da Idade Média. Este novo ciclo era concentrador de mão de obra, impondo a especialização do movimento monótono de apertar apenas um único tipo de parafuso, o acúmulo de capital e insumos e a a concentração de tudo isto em ponto geográfico favoráveis. Estes lugares eram as cidades que se tornaram hegemônicas e se refletiram numa urbanização desmesuradas. A mão de obra que no período agrícola era polivalente e sabia fazer de tudo um pouco, agora
Mathias, e os seus patrícios, tinham o objetivo de introduzir a policultura de subsistência autônoma em oposição à monocultura para a exploração dependente do período colonial brasileiro. Policultura de subsistência própria e que rendiam tanto mais quanto maior numeroso este grupo familiar monogâmico  O Império Brasileiro fazia de tudo para que este novo ciclo produtivo funcionasse sem a  mão de obra escrava.
Este modelo de subsistência era mais econômico e eficaz na medida em que cada indivíduo dominasse todo o processo. Processo no qual cada membro - de uma comunidade ampliada -  poderia exercer a função do marceneiro, do moleiro, do ferreiro, do veterinário ou agente de saúde, sem se dedicar a isto em tempo integral.

Fig. 06 –  A carroça típica de 4 rodas da colonização alemã.
Ela resultava do trabalho integrado do marceneiro e ferreiro.

Este modelo não era natural e corria sério perigo de fracassar a qualquer momento. Estes fracassos haviam ocorrido com os holandeses no Brasil, nas Missões jesuíticas e nas diversas migrações recentes. Inclusive este fracasso estava em curso com  colonos alemães alojados em outros pontos do Brasil, como em Friburgo, a pouca distância da capital do Império. Ali, por falta de estradas adequadas,  os produtos agrícolas não tinham como escoarem, comercialmente alcançavam preços vis. Os recém chegados preferiam, ao risco do trabalhão na lavoura, mudar-se para as ocupações urbanas do Rio de Janeiro.
De outra parte Mathias mantinha uma família numerosa sob o mesmo teto, ao redor da mesma mesa e do trabalho coletivo em comum. Com este paradigma familiar ele estava apartando-se do modelo europeu de família que cada vez mais estava entregando a sua prole (proletário) à concentração de mão obra necessária para o trabalho em escala industrial.
De outra parte a família numerosa sob o mesmo teto e trabalho em comum - que se instalava nos minifúndios a partir de São Leopoldo - rapidamente esgotava a sua capacidade de produção e foi necessária a migração para reiniciar o ciclo nas “novas colônias”. Novas colônias que hoje estão chegando até a floresta amazônica e onde se multiplica o trabalho da policultura agrícola de subsistência autônoma.




FONTES das IMAGENS

Pedro Weingärtner (1853-1929) Um artista entre o Velho e o Novo Mundo – São Paulo : Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2009,  263 p.

Pinacotecas Aldo Locatelli e Ruben Berta: acervo artístico da Prefeitura de Porto Alegre. Porto Alegre : Pallotti e Prefeitura Municipal de Porto Alegre. 2008, 213 p

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